Existe uma “psicologia católica” ou uma “psicologia cristã”? Há uma psicologia que se coaduna, que combina seus elementos com a doutrina cristã? Se você se interessa por esta questão, é justamente isso que tratarei neste artigo.
Quem é o pai?
Existe a ideia de que a psicologia teria nascido com Freud, que ele seria o fundador da psicologia. Isso não é verdade. Sem desmerecer a valor do fundador da psicanálise, este é o seu lugar na psicologia: criador de uma abordagem, de um modo de entender a psique humana, que é o sistema psicanalítico.
A forma freudiana de entender o ser humano nasceu numa época em que já existiam a psicologia experimental, a psicologia fenomenológica, a psicologia proclamada pela filosofia e outras psicologias.
Aristóteles
Quem ofereceu uma primeira resposta respeitável acerca da psique humana foi Aristóteles, filósofo grego do século quarto antes de Cristo. Foi aluno de Platão e foi o preceptor, isto é, o formador de Alexandre, o Grande. Ele publicou seus estudos sobre as emoções humanas na obra Peri Psique, traduzida para o latim como De Anima, que em português significa Sobre a Alma. Vemos aqui que o termo psique corresponde ao termo alma no nosso idioma.
Pois bem, a produção intelectual aristotélica foi perdida no mundo latino, tendo subsistido no mundo intelectual árabe. As obras de Aristóteles chegaram no que hoje chamamos de Europa apenas no século XIII d.C. Essa grande “novidade” movimentou a intelectualidade medieval e despertou o interesse de Santo Tomás de Aquino.
Santo Tomás de Aquino
Santo Tomás é um gênio da filosofia e da teologia, sua obra monumental é um dos ápices da inteligência humana. Há autores que o consideram uma “máquina de pensar”. Com apenas dezoito anos de idade ele escreveu sua primeira obra.
Na sua Summa Teologica, ele sintetizou o conhecimento psicológico apresentado por Aristóteles e integrou-o ao conhecimento então atual. Uniu a sabedoria que Aristóteles havia atingido com apenas os recursos da razão, integrou-a à Sabedoria que nos foi dada pela Revelação Cristã. Deixou-nos como herança um amplo e completo tratado sobre a alma humana, que modernamente chamamos de emoções ou psicologia.
Emoções
Não é possível, num pequeno artigo, apresentar esta psicologia aristotélico-tomista, pois ela é muito ampla. Ela contextualiza as emoções no grande esquema das potências humanas. Estabelece comparações entre a capacidade de elaboração mental dos homens e dos animais, os ditos “brutos”, pois não possuem a razão, capacidade que distingue o ser humano dos outros animais. Podemos apenas tecer alguns comentários sobre esta psicologia.
Os termos precisos
É um sistema de grande precisão terminológica, que supera certas confusões da psicologia moderna, que é imprecisa quando fala, por exemplo, de sentimentos e emoções. A psicologia tomista classifica as paixões humanas em onze. “Paixões” é um termo equivalente ao que hoje chamamos de emoção.
Doenças emocionais
A desordem dos atos humanos relacionados às paixões são as doenças emocionais, que na época eram chamadas de “enfermidades da alma”. Do entendimento e identificação dos atos desordenados e dos meios de ordená-los, para o restabelecimento da saúde, resulta a Psicoterapia Tomista, isto é, uma forma de estabelecer uma relação de ajuda com a pessoa que está doente emocionalmente.
A Psicoterapia Tomista
A utilização da base de conhecimentos da psicologia tomista e a sua transformação em um sistema de psicoterapia nos moldes da nossa psicoterapia contemporânea foi realizada por psicólogos desde os anos 1940 até os nossos dias. Os dois maiores expoentes nesta tarefa são o canadense Robert Brennan e o argentino Martin Echavarria que atualmente dirige uma universidade em Barcelona.
Atualidade do Tomismo
Este sistema que chamamos Psicologia Tomista tem atualidade nos dias de hoje. Se a doutrina de Santo Tomás como um todo, que abarca a filosofia, a teologia e a psicologia, tem alguns pontos que foram superados pela evolução da ciência, o que é natural, a sua psicologia, pelo contrário, mostra grande atualidade em nossos dias.
A alma humana, suas paixões e emoções, ainda é a mesma, é aquela que foi sabiamente descrita por Aristóteles e por Santo Tomás de Aquino. Esta psicologia é totalmente aderente aos valores da fé cristã e perfeitamente conciliáveis com a ciência. É uma psicologia científica, no sentido amplo do termo ciência.
É interessante observar que os psicólogos tomistas utilizam toda a grandiosidade do sistema aristotélico-tomista, que abarca o ser humano em sua totalidade existencial e não apenas a sua vida cotidiana, ou seja, o seu aspecto imanente. Eles conciliam este conhecimento mais antigo com as recentes conquistas da ciência moderna.
Atualmente temos recursos para estudar o cérebro humano e também os fenômenos psicofisiológicos e as nuances do comportamento humano e do aparelho psíquico. Este novo conhecimento é integrado ao conhecimento já existente, ampliando-o e atualizando-o.
Esta possibilidade e abertura para integrar um conhecimento pré-existente às recentes descobertas enriquece a Psicologia Tomista, pois sendo ciência, esta evolui e se amplia através de novos conhecimentos.
Um Sistema Dialógico e Inter-religioso
A Psicologia Tomista é inspirada na obra de um doutor da Igreja Católica. Contudo, isso não significa que ela seja adequada apenas para os fiéis católicos. Pelo contrário, é uma psicologia que busca entender o ser humano e contribuir para a solução das suas desordens psíquicas sem doutrinação. Ela terá utilidade para o ser humano em geral, seja ele católico, espírita, evangélico, agnóstico ou ateu. Não é um sistema de conversão ou debate da fé, mas de psicoterapia.
Vou concluir este artigo assegurando a você que a Psicologia Tomista, como todos os demais sistemas de psicoterapia, não pode garantir resultado, ou seja, a remissão da doença emocional ou dos sintomas. No entanto, como os demais sistemas, é eficiente na solução de muitos casos e contribui para a melhoria da qualidade de vida e da existência de muitas pessoas.
Estamos vendo renascer um grande sistema, que trará benefícios às pessoas e à ciência da psicologia.