Mostrando postagens com marcador Conscientização. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Conscientização. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Se a Igreja é tão rica por que não vende seus tesouros? Papa Francisco responde


 Papa Francisco concedeu uma entrevista a uma revista holandesa e respondeu sobre os tesouros da Igreja.

Em dado momento o repórter perguntou: “Como Papa e Bispo de Roma, se sentiu, alguma vez, sob pressão para vender os tesouros da Igreja?”

“Esta é uma pergunta fácil. Não são os tesouros da Igreja, mas são os tesouros da humanidade. Por exemplo, se eu amanhã digo que a Pietà de Michelangelo será leiloada, não é possível, porque não é de propriedade da Igreja. Está em uma igreja, mas é da humanidade. Isso se aplica a todos os tesouros da Igreja”.

O Santo Padre recordou ainda: “Começamos a vender presentes e outras coisas que são dadas para mim. E os rendimentos da venda vão para Dom Krajewski, que é meu elemosineiro. E depois tem também a loteria. Há carros que foram vendidos ou cedidos em uma loteria e os recursos recolhidos utilizados para os pobres. Há coisas que se podem vender e essas se vendem”.

Do mesmo modo, explicou que “se fizermos um catálogo dos bens da Igreja, se pensa: a Igreja é muito rica. Mas, quando foi feito a Concordata com a Itália em 1929 sobre a Questão Romana, o governo italiano daquele tempo ofereceu à Igreja um grande parque em Roma. O papa na época, Pio XI, disse: não, eu gostaria apenas de meio quilômetro quadrado para garantir a independência da Igreja. Este princípio vale ainda hoje”.

“Os bens imóveis da Igreja são muitos, mas nós os usamos para manter as estruturas da Igreja e para manter muitas obras que são feitas em países necessitados: hospitais, escolas. Por exemplo, eu pedi para enviar ao Congo 50 mil euros para construir três escolas em lugares pobres; a educação é uma coisa importante para as crianças. Eu fui à administração competente, fiz este pedido e o dinheiro foi enviado”, explicou o Santo Padre.

domingo, 12 de julho de 2020

Como receber a absolvição dos pecados sem a Confissão sacramental? A contrição perfeita

[Utilíssimos esclarecimentos dados pelo Pe. Leonardo Wagner, pároco da Par. Pessoal
Nª Sª do Rosário de Fátima e Sto. Antônio de Pádua no Rio de Janeiro]


EXISTE UM MEIO pelo qual Deus perdoa os nossos pecados antes mesmo da Confissão; este meio é a contrição perfeita. Estamos tratando de algo extremamente importante nos nossos tempos, em que as igrejas encontram-se fechadas por força de uma pandemia, e é difícil encontrar um padre para ouvir a nossa confissão. Assim, todos aqueles que cometeram pecados graves e que desgraçadamente se encontram impedidos de confessá-los, saibam que sempre teremos esse precioso recurso para a reconciliação sem demora com Deus. Mas o que vem a ser a contrição perfeita, afinal?

Como ser perdoado por Deus sem ir ao sacerdote para confessar os nossos pecados? Há algum meio de receber o perdão dos pecados graves sem confissão? Os padres não estão atendendo confissões por causa do coronavírus, o que fazer? Vejamos...

Em sua infinita misericórdia, Deus pôs à disposição de seus filhos, para a sua santificação, uma incomensurável quantidade de dons e graças. Alguns desses favores divinos, Ele os dispensa a todo e qualquer fiel. Outros, em sua sabedoria, o Criador os reserva a algumas almas eleitas: é o caso dos dons como o da profecia, o de fazer milagres e outros, concedidos apenas em determinadas circunstâncias, de acordo com as necessidades da Santa Igreja.

Há um outro dom divino muito especial, mas que não é reservado a alguns. Antes, esta graça divina maravilhosa está sempre ao alcance de todos os fiéis, sem qualquer exceção. Mais ainda, esse dom é de fundamental importância na vida espiritual de todo batizado. Estamos falando da contrição perfeita.

A contrição – ou arrependimento – é a dor de alma que a pessoa sente por haver pecado; essa dor só é verdadeira quando o pecador detesta a má ação praticada e tem o firme e honesto propósito de não mais pecar. Por exemplo, se um marido adúltero se diz arrependido pelo seu pecado, mas não tem intenção de terminar o relacionamento com sua mante, isto é, não tem verdadeiro horror ao pecado em si e nem esta determinado a abandoná-lo, nem faz o real propósito de se corrigir, então não está contrito.

Para ser autêntica, a contrição precisa ser interna, ou seja, provir de fato da alma, não pode reduzir-se a meras palavras pronunciadas.

Deve também ser geral, isto é, abranger todos os pecados, ao menos todos os pecados mortais. É necessário, por fim, que ela seja sobrenatural, quer dizer, que tenha por base alguma verdade da Fé: o temor a Deus, que tem o direito de ser obedecido, o amor a Deus que primeiro nos ama, o desejo do Céu pela proximidade com Deus, etc.

Se alguém rouba e depois se arrepende porque está em risco de ser preso, isso não é autêntica contrição, pois se baseia em motivos meramente naturais. A essência da contrição perfeita, pois, é a vontade de afastar-se do pecado

O melhor de tudo, como já foi dito, é que a graça do arrependimento está ao alcance de todos.

Para obtê-la, basta manifestar a Deus com sinceridade de alma o seu pesar por tê-Lo ofendido e o firme propósito de não tornar a pecar.

“A essência da contrição está na alma, na vontade de afastar-se deveras do pecado e converter-se a Deus”, afirma o Padre Johann von den Driesch.

Exemplos de verdadeira contrição


Vejamos um belíssimo exemplo de contrição perfeita, tirado do Evangelho.

No pátio da casa do sumo sacerdote Caifás, São Pedro negou três vezes a Jesus. Em seguida, saiu e “chorou amargamente” (Mt 26, 75).

Por que chorou São Pedro? Se fosse pelo fato de passar vergonha diante dos outros Apóstolos, seria uma dor meramente natural, não existiria verdadeira contrição. Se fosse por medo de ser excluído do Reino de Cristo, ele teria uma contrição autêntica, mas imperfeita.

Ele chorou, porém, por um motivo muito elevado, como diz o Padre von den Driesch: “Pedro arrepende- se e chora, antes de tudo, porque ofendeu a seu amado Mestre, tão bom, tão santo, tão digno de ser amado […].

Tem, pois, verdadeira e perfeita contrição”.

Os Evangelhos nos narram mais um magnífico exemplo de contrição perfeita: o da pecadora que se prostra aos pés de Jesus, banha-os com suas lágrimas, enxuga-os com seus cabelos, beija-os e, por fim, os unge com perfumes. E o Divino Mestre declara que “seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela muito amou” (Lc 7, 47).

A contrição perfeita não desobriga da Confissão

Que pela contrição perfeita o pecador obtém o perdão dos seus pecados antes mesmo de confessar-se é doutrina afirmada no Concílio de Trento (14ª sess., cap. 4).

Entretanto, adverte o mesmo Concílio, ela não dispensa o pecador da necessidade de acusar-se de todos os seus pecados mortais no Sacramento da Confissão e de receber a absolvição do ministro de Deus. De modo que no próprio ato de contrição perfeita deve estar incluído o propósito de confessar-se[2] Quanto tempo depois? É pelo menos muitíssimo aconselhável confessar- se logo que possível.

“Mas é tão difícil ter contrição perfeita!” – poderá alguém pensar.

Puro engano! Para dar-nos essa graça, Deus exige de nós uma atitude bem ao nosso alcance: desejá-la realmente e pedi-la com insistência.

O Padre Johann von den Driesch sugere, entre outras, esta curta oração: “Senhor, dai-me a graça do perfeito arrependimento, da perfeita contrição dos meus pecados”. A quem assim pede, com boa vontade e de coração sincero, Deus não deixará de atender.

Efeitos da contrição perfeita

Mesmo que a prática da contrição perfeita não possibilite o retorno à Comunhão sacramental, antes da Confissão a um sacerdote tão logo quanto possível, para aqueles que cometeram pecado mortal, ainda assim são maravilhosos os efeitos e benefícios que nos obtém, a começar pelo maior deles: a liberação da pena do Inferno. "Só" esse benefício já faria valer a pena sua prática. Vejamos:

A quem é pecador, a contrição perfeita perdoa imediatamente os pecados cometidos, devolvendo- lhe a graça santificante pela qual ele volta a ser filho de Deus, livrando- o das penas do Inferno e restituindo- lhe os méritos perdidos.

Dir-se-á, então, que a contrição perfeita beneficia apenas a quem cometeu pecado mortal. Não é verdade, pois ela robustece o estado de graça naqueles que não o perderam. Cada ato de contrição perfeita aumenta o grau da graça santificante em nossa alma, tornando-a mais formosa aos olhos de Deus!

Eis aí, leitor, um imenso dom que Deus deixou ao nosso alcance. Saibamos bem aproveitar esta dádiva celeste, procurando fazer diariamente muitos atos de contrição perfeita. Pois, além dos benefícios enumerados acima, quem se habitua a fazê-los com freqüência os repetirá, por assim dizer, instintivamente na hora da morte.

Portanto, uma prática benéfica também nos casos de pecados veniais, ou até mesmo quanto às imperfeições. Saibamos aproveitar a imensa bondade do Criador que nos dá essa misericordiosa oportunidade de nos apresentarmos diante d'Ele limpos do pecado!



_______
Fontes e ref.:
Driesch , Johann von den. A Contrição Perfeita – uma chave de ouro para o Céu, Tip. São Francisco, Bahia, 1913.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Tem Confiança, Filho...

“Eis que vieram ter com Ele uns homens, trazendo no leito um homem que era paralítico, o qual era introduzido por quatro homens e procuravam introduzi-lo e pô-lo diante de Dele. E, como não pudessem apresenta-lo, não achando por onde o passar por causa de muita gente, subiram sobre o telhado e descobriram o telhada da casa onde estava; e, tendo feito uma abertura pelas telhas, arriaram o leito em que o paralítico jazia, pondo-o meio no meio da casa, diante de Jesus. E, vendo Jesus a sua fé, disse ao paralítico: – tem confiança, filho; homem, os teus pecados te são perdoados.” 
Que confiança a do paralítico! Levado caridosamente por quatro homens, sujeita-se a todo sacrifício para chegar à presença de Jesus. E é conduzido no próprio leito em que jazia, talvez há muitos anos. Atravessa a multidão, sore no telhado e chega até Nosso Senhor. Que bons amigos os quatro homens que o conduziram! Quando a paralisia do pecado, da tibieza, dos maus hábitos nos impedir os passos no caminho da salvação, aceitemos os bons amigos que nos levem ao Médico.
Divino. São eles as boas leituras, o confessar, os sofrimentos, a doença, os golpes da vida. Esses amigos nos farão subir pela confiança, descobrirão o telhado de nosso pobre coração, fechado pelo egoísmo, e nos farão descer pela humildade, talvez pelas humilhações, até a presença tão doce de Jesus. Ouviremos, então, a palavra que nos há de encher o coração: “Tem confiança, filho, teus pecados te são perdoados”.
Mons. Ascânio Brandão
Texto retirado do livro: O Breviário da Confiança

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Sobre templos e falsos profetas.

Heim?!

ESTE ARTIGO tem somente a intenção de esclarecer minimamente aos fiéis católicos a respeito do tal "templo de Salomão" inaugurado recentemente em São Paulo, mais uma farsa religiosa dos nossos tempos e mais uma punhalada no cristianismo, já tão deturpado pelas seitas.

1. Não existe nem poderá existir "Templo de Salomão" algum desde 587 aC, quando o Templo do SENHOR, construído pelo Rei Salomão, foi incendiado pelos babilônios. Este era o chamado Primeiro Templo dos judeus.

2. Nem mesmo no tempo de Jesus havia um "Templo de Salomão". Havia sim, o Segundo Templo, construído pelos judeus que voltaram do Exílio de Babilônia entre 537–515 aC. Foi nesse Templo, reformado, ampliado e embelezado por Herodes Magno, que Jesus nosso Senhor pregou. Foi sobre esse Templo que Ele afirmou tratar-se de uma imagem Dele próprio, morto e ressuscitado: "Destruí este Templo e em três dias Eu o edificarei!".

3. O Templo de Salomão em si não tem significado algum para o cristianismo. Também não pode ser reconstruído, pois já não seria o Templo "de Salomão", mas o de outra qualquer pessoa: no caso, um outro "rei"! O que se construiu em São Paulo foi um simplesmente um "Edifício em honra e glória ao empresário Edir Macedo"; nem mais nem menos.

4. Quanto ao Templo dos judeus, somente poderia ser construído sobre o Monte do Templo, chamado Monte Moriá, em Jerusalém. Os judeus nunca reconstruíram o seu Templo por isso: porque ali já estão erguidas duas mesquitas muçulmanas.

5. Os cristãos jamais poderão ou deverão reconstruir Templo judaico algum! Isto é negar Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a nossa Nova e Eterna Aliança em Deus, e voltar ao Antigo Testamento.

6. Templo e Arca já não têm sentido algum no cristianismo. Mais ainda: não passam, puramente, de vazias falsificações que ofendem a reta consciência cristã e desrespeitam até mesmo os próprios judeus, imitando de modo grosseiro e falseando de modo superficial o real significado dos seus símbolos religiosos. E como a Bíblia Sagrada é perenemente profética, já havia alertado sobre estas e outras heresias desde os tempos antigos:

"Convertei-vos, ó filhos rebeldes, diz o SENHOR; pois eu vos desposei; e vos tomarei, a um de uma cidade, e a dois de uma família; e vos levarei a Sião. E dar-vos-ei pastores segundo o Meu Coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência. E sucederá que, quando vos multiplicardes e frutificardes na terra, naqueles dias, diz o SENHOR, nunca mais se dirá: 'A Arca da Aliança do SENHOR', nem ela lhes virá mais ao coração; nem dela se lembrarão, nem a visitarão nem se fará outra."
(Jeremias 3, 14-17)

É uma pena ver como o charlatanismo, a ignorância e o grotesco prosperam em certas expressões heterodoxas de alegado "cristianismo". E tudo por conta da ignorância e da falta de bom senso de toda uma população insensata.

________
• Adaptado do artigo "O Templo Paulista 'de Salomão'", de Dom Henrique Soares, Bispo de Palmares, disponível em:
http://www.pr.gonet.biz/kb_read.php?pref=htm&num=3179

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O Pai-Nosso – o certo é dizer "dívidas" ou "ofensas"?

"No Pai nosso o que é correto rezar: 'perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tenham ofendido', ou 'perdoai as nossas dívidas assim como perdoamos as de nossos devedores'. Dizem que a tradução correta dos evangelhos originais de Matheus é a segunda hipótese. Henrique Sebastião se puder tirar esta minha dúvida eu agradeço. A paz de Jesus."

Como fica, então, subentendido, nesta postagem não é nosso objetivo meditar a oração do Pai-Nosso como um todo. – Seria bom fazê-lo, e possivelmente o faremos, se Deus o quiser. – Agora  procuraremos, com a Graça do mesmo SENHOR, resolver uma dificuldade que perturba alguns fiéis católicos que querem continuar seguindo com fidelidade a Sagrada Tradição através do Magistério perene da Santa Madre Igreja.

Há um provérbio popular que diz: "Ensinar o Pai-Nosso ao Vigário". Vivemos em tempos tão conturbados que este provérbio está se realizando "ipsis litteris", isto é, nas mesmas letras. Pois uns dizem: "Senhor Vigário, o senhor está errado porque está rezando no Pai-Nosso: 'Perdoai as nossas ofensas', e não 'dividas'". Já outros dizem: "Senhor Vigário, o senhor está errado porque está rezando no Pai-Nosso: 'perdoai as nossas dívidas', e não 'ofensas'".

Todos sabemos que foi Jesus quem ensinou o Pai-Nosso. Por isso é a oração mais perfeita e mais bela que existe. É a Oração do Senhor ou "Oração Dominical". "Dominus" em latim quer dizer "Senhor". Quão importante e necessário é que rezemos o Pai-Nosso como Jesus ensinou! Devemos rezá-lo não só com grande devoção mas também como Jesus rezou, portanto, com toda a fidelidade. Facilitá-lo é a finalidade desta postagem.

Dois Evangelistas relatam a passagem em que se narra como Jesus ensinou o Pai-Nosso: São Mateus (6, 9-13) e São Lucas (11, 1-3). Pelos estudos da Exegese parece que Jesus só se utilizou do aramaico, língua falada na Palestina naquela época, aliás muito parecida com o hebraico, idioma original dos judeus. Usava-se também o grego (língua da Ciência e da Filosofia) e o latim, por ser a língua oficial do império romano, ao qual estava sujeita a Palestina na época.

Concluímos com toda probabilidade que Jesus ensinou o Pai-Nosso em aramaico. São Mateus também escreveu seu Evangelho em aramaico. Já São Lucas escreveu o terceiro Evangelho em grego. São Lucas é o único que não pertence a raça judaica: nasceu em Antioquia, era médico e escrevia em grego. Possuía, inclusive, grande conhecimento desta língua, e o seu Evangelho, literária e historicamente, é o mais perfeito.

Quanto ao Pai-Nosso, os relatos de São Mateus e de São Lucas não são iguais: Lucas é mais sucinto. Por isso a Santa Madre Igreja adotou o de São Mateus completado com alguma palavra do de São Lucas. De São Mateus a Igreja adotou o Amém, segundo a Vulgata de São Jerônimo. Agora vamos ao ponto nevrálgico: dívidas ou ofensas?

Além de São Lucas, também São Marcos e São João escreveram em grego. São Jerônimo traduziu os quadro Evangelhos para o latim. Em São Mateus traduz empregando a palavra debita que quer dizer: "dívidas". De São Lucas traduziu peccata, que quer dizer: "pecados". A palavra empregada no aramaico por São Mateus corresponde no grego à palavra ofeilémata, que em português quer dizer exatamente "dívidas". São Lucas, porém, não empregou esta palavra, mas a substituiu pela palavra grega martías, que em português quer dizer exatamente "pecado". São Lucas assim o fez (e como já dissemos ele tinha um conhecimento profundo do grego) porque "pecado" era mais claro para os leitores gregos, enquanto que a palavra ofeilémata (dívidas), sugeria-lhes a ideia de obrigação financeira.

Por sua vez, São Mateus empregou a palavra aramaica que significava dívidas porque no aramaico a noção de pecado exprimia-se correntemente pela palavra "dívida". E a demonstração mais clara disto é o exemplo do próprio Cristo Jesus, que usou a parábola dos Servos Devedores, para mostrar que, se nós não perdoarmos as ofensas que nossos próximos nos fazem, também Ele não perdoa os nossos pecados. – Logo depois de ensinar o Pai-Nosso, Jesus disse: "Porque, se vós perdoardes aos homens as suasofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará os vossospecados. Mas, se não perdoardes aos homens, tão pouco vosso Pai vos perdoará os vossos pecados". (S. Mateus, 11, 14-15).



Vemos assim que já nas origens, partindo das próprias palavras do Cristo, haviam as duas palavras. Isto explica o porquê das diferenças, – aliás mais superficiais do que reais, – nos diversos idiomas do mundo, ao se rezar o Pai-Nosso. Fiz uma pesquisa e pude constatar o seguinte: Em Portugal já se rezava "ofensas" (o Pai-Nosso num livro de 1940 e no 'Pequeno Manual do Catequista' do célebre teólogo Perardi, editado em 1955 em LISBOA, na gáfica União, traz o Pai-Nosso em latim ao lado da tradução em Português, e lá está: 'Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido'); na França se rezava "offences", isto é, "ofensas" (Pai-Nosso num livro de 1914); na Itália se rezava "debiti", isto é, "dívidas" ( Pai-Nosso num livro de 1960); na Espanha se rezava "deudas", isto é, "dívidas" ( Pai-Nosso num livro de 1928).

No Brasil se rezava "dívidas", e não "ofensas". Depois do Concílio Vaticano II, os bispos do Brasil decidiram passar a rezar "ofensas", como em Portugal. D. Antônio de Castro Mayer não teve nenhuma dificuldade em aceitar a mudança e a impôs na Diocese de Campos, inclusive ao imprimir o Catecismo já usou o Pai-Nosso com esta modificação. O Padre Emanuel José Possidente, em 1972, quando imprimiu seus "Planos de Aulas" ('Explicação do Pequeno Catecismo') faz a explanação do Pai-Nosso segundo a mudança, ou seja, "perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos têm ofendido".

Numa posterior reunião do clero, um dos sacerdotes da atual Administração Apostólica São João Maria Vianney apresentou objeção, aceita no momento por seus pares; D. Antônio de Castro Mayer voltou atrás e mandou que se continuasse rezando o Pai-Nosso como até então sempre fora o costume no Brasil, com "dívidas" no lugar de "ofensas"1. – Aconteceu que , com a vinda do novo Bispo, D. Carlos Navarro, houve a famosa divisão na Diocese de Campos, porque o Bispo expulsou os padres da Administração de suas paróquias. Assim, o povo que ficou do lado do novo Bispo rezava o Pai-Nosso com a mudança ('ofensas') e os da Administração continuaram com a versão tradicional ('dívidas'). – Isso criou no povo uma ideia errada de que rezar "nossas ofensas" seria sinal de progressismo. Os próprios padres da Administração, porém, reconheceram que pela estudo exegético e histórico a mudança realmente não envolvia nenhum progressismo. Quem poderia tachar de "progressistas" o Santo Cura d'Ars ou Santa Terezinha, porque rezavam : "Pardonnez-nous nos offenses, comme nous pardonnons à ceux qui nous ont offensés", (Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido)?.

Portanto, tal diferença já havia antes do Concílio Vaticano II, e mesmo que tivesse advindo deste, não haveria aí nenhum problema. A realidade precisa ser vista objetivamente. Não sabemos dizer se a mudança ocorreu apenas no Brasil ou também em outros países onde que se rezava "nossas dívidas". – Se alguém souber e puder nos esclarecer, ficaremos muito agradecidos.


1. Conf. informações da página mantida por sacerdote da Administração Apostólica São João Maria Vianney, "Zelo Zelatus Sum", ref. fonte espec. abaixo.

________
Adaptado do artigo "O Pai-Nosso", do site "Zelo Zelatus Sum", disponível em:

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Mais um sinal do caos moral dos nossos tempos

Mais um sinal do caos moral dos nossos tempos: escola institui banheiros unissex





UMA ESCOLA em East Sussex, no sudeste da Inglaterra, tem atraído atenção e críticas por parte dos pais por ter decidido que todos os alunos, sejam meninos ou meninas, deverão usar os mesmos banheiros, para prevenir o que chamam de "transfobia"; – que seria uma suposta fobia de gênero(!), que também supostamente deveria ser combatida a todo custo.


A medida, como se vê, segue a lógica absurda e completamente desprovida de qualquer comprovação científica da malfadada "ideologia de gênero", segundo a qual todas as diferenças entre os sexos são socialmente determinadas, não passando de construções sociais artificiais, sem nenhum fundamento na natureza humana, e devem ser eliminadas desde a mais tenra infância.






Alguns pais têm reclamado que seus filhos não querem usar os mesmos banheiros do sexo oposto, porque se sentem desconfortáveis com a situação. A escola tem cerca de quinhentos alunos entre 3 e 11 anos de idade. Em uma carta aos pais, a escola afirma: "Nós queremos que as famílias se sintam informadas sobre como apoiar de forma eficiente o transgênero e os questionamentos de gênero por parte de seus filhos, prevenindo qualquer 'transfobia' na escola".



____
Fontes:
• "The Telegraph", disponível em
http://www.telegraph.co.uk/education/primaryeducation/11138932/Primary-school-introduces-unisex-toilets-to-prevent-transphobia.html
Acesso 15/10/014
• Seção "Pelo Mundo" do Semanário "O São Paulo", órgão da Arquidiocese de São Paulo, ed. 3023, 15 a 21 de outubro/014, p. 9



sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Prioridades do PT

Por Jorge Ferraz – "Deus lo Vult!"

É DA SEMANA PASSADA a notícia segundo a qual o Congresso este ano eleito é «o mais conservador desde 1964», e eu a havia recebido com uma certa indiferença. Deixara para escrever sobre o assunto depois, talvez algumas linhas ligeiras, talvez apenas algum comentário rápido: mais do que a acurácia da análise do Diap (pela qual eu aliás não ponho a mão no fogo; e não cheguei a fazer, por conta própria, o levantamento dos perfis dos deputados que assumirão um mandato parlamentar em janeiro do ano que vem), agradou-me a polvorosa em que estavam todos os sedizentes arautos de um admirável mundo novo. Isso, por si só, já era muito significativo e já nos dava motivos para comemorar: o que dizer sobre esse Congresso que eu mal conheço e já considero pacas?

Não sei o que dizer sobre o Congresso, mas há uma ou duas coisas a serem ditas, sim, a respeito desta análise que o Partido dos Trabalhadores faz sobre o assunto (qualificando como "jurassic park ideológico" o novo congresso). Citando «o diretor do Diap, Antônio Augusto Queiroz», o site do PT traz aos seus leitores a seguinte informação:

"Segundo Queiroz, o novo quadro dificultará o debate sobre pautas como a união homoafetiva, a legalização do aborto e a descriminalização da maconha para fins medicinais e de consumo recreativo. Para ele, a esperança de debates futuros sobre esses temas reside na reeleição da presidenta Dilma Rousseff, no pleito do próximo dia 26, contra o adversário Aécio Neves (PSDB). “Se a Dilma for eleita, essas pautas terão mais condições de resistir, porque Aécio não tem uma postura clara em relação a elas”, avalia."
Em resumo, o que este parágrafo diz é:
  1. que o “debate” a respeito de «pautas como a união homoafetiva, a legalização do aborto e a descriminalização da maconha» fica prejudicado com a nova configuração do Congresso; e
  2. que a “esperança” desses temas continuarem “resistindo” «reside na reeleição da presidenta Dilma Rousseff».
O que significa, em suma, que a principal preocupação do PT é com o “casamento” gay, com o aborto público, gratuito e de qualidade e com a liberação das drogas. O Partido da atual Presidente da República tem algumas prioridades, em atenção às quais é de fundamental importância que lésbicas possam se casar, fumar maconha e abortar. De todos os problemas que o Brasil atual apresenta, os mais importantes, no entender do Partido dos Trabalhadores, dizem respeito aos gays não poderem se casar, as mulheres não poderem matar seus próprios filhos no ventre e a população em geral não poder usar drogas.

Votar num partido é, sim, votar em um projeto de país. E a concepção que o PT tem de um “país bom” para se viver é exatamente esta: um lugar onde não haja diferença entre a família e uma dupla formada por pessoas do mesmo sexo, onde as mulheres sejam livres para assassinar os seus filhos no ventre sem que ninguém lhes importune por isso, onde qualquer cidadão possa se drogar à vontade sem que ninguém interfira na sua lombra sagrada e inviolável (mas fumar cigarro comum, nem pensar!). Um lugar, em suma, onde o Estado garanta o aborto, a maconha e o casamento gay. E é exatamente por isso que quem não é a favor dessas coisas não pode votar no PT.

Independente das divergências que se possa legitimamente ter com respeito a quaisquer partidos políticos, essa matéria – divulgada, repita-se, na página principal do portal do PT – a respeito do “Jurassic Park ideológico” do Congresso fornece um corte para além do qual os católicos não podem ir. Se for possível dividir o mundo entre os que acham que o aborto é uma coisa ruim e os que defendem que se trate de um direito a assegurar às mulheres, de um lado está a Doutrina Católica e, do outro, a ideologia petista. Se for possível traçar uma linha separando por um lado os que querem garantir o «consumo recreativo» da maconha e, por outro, os que acham que as drogas devem ser combatidas pelas autoridades públicas, então de um lado estão os eleitores do PT e, do outro, os que ouvem o Papa Francisco. Ninguém pode servir a dois senhores: ou se há de aquiescer à agenda (i)moral petista, ou se há de seguir a Doutrina Moral da Igreja de Cristo. As duas coisas ao mesmo tempo não dá.

Sim, é um absurdo o descaso com o qual os usuários de drogas são tratados nesta Pátria, e é profundamente lamentável que mulheres percam a vida realizando abortos clandestinos em açougueiros que, se a lei servisse de alguma coisa neste país, deveriam estar atrás das grades. No entanto, a simples legalização tão propalada por alguns, longe de resolver, significa institucionalizar o problema. Significa dizer que está tudo bem com um drogado, desde que o seu vício renda impostos para os gordos cofres da Administração Pública, e que está tudo certo com as mulheres matarem os seus filhos, desde que o morticínio seja realizado em assépticas salas cirúrgicas financiadas pelo Erário. E nós achamos que, não, não está tudo bem com isso.

De acordo com o Partido dos Trabalhadores, o ideal de dignidade feminina que se deve almejar e a favor do qual é preciso lutar sem tréguas concretiza-se na figura de duas lésbicas casadas realizando, maconhadas, um aborto pelo SUS. Ora, isso é profundamente patético e degradante, e a população brasileira já deixou suficientemente claro – também com a eleição do Congresso «mais conservador desde 1964» – que não considera semelhante despautério como um valor a ser perseguido. No entanto, na contramão do interesse dos brasileiros, o PT continua propagando essa sua ideologia, e continua insistindo na «união homoafetiva», na «legalização do aborto» e na «descriminalização da maconha», e apontando a reeleição da Dilma como a última esperança de esses temas resistirem ainda! O impasse é absolutamente incontornável. E é por isso que quem acha que o Brasil merece valores diferentes destes não pode, no próximo dia 26, votar na Sra. Dilma Rousseff.

___
Fonte:

"Deus lo Vult!", disponível em:
http://www.deuslovult.org/2014/10/13/as-prioridades-do-pt-uniao-homoafetiva-legalizacao-do-aborto-e-descriminalizacao-da-maconha/

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Padre Marcelo Rossi fala sobre depressão, política e anorexia em entrevista




Com uma abertura impressionante, o padre Marcelo Rossi fala sobre os distúrbios alimentares e psicológicos pelos quais passou nos últimos anos. Para os que se espantaram com a magreza exibida no último domingo, no programa 'Fantástico' (Globo), questionada por internautas, ele alivia: “minha saúde está ótima”.


Os quilos a menos são assegurados por uma dieta balanceada - nada de água, alface e hambúrguer, como no ápice da anorexia - e cerca de dez quilômetros diários percorridos na esteira. O hábito é anterior à batina: o pároco do Santuário Mãe de Deus, em São Paulo, é formado em educação física. Mas também pelo jejum ao qual se submeteu durante a composição das 14 canções do novo disco, 'O tempo de Deus' (Sony, R$ 10).

O projeto é o primeiro influenciado pela depressão e anorexia. “O CD vai ajudar muito as pessoas tristes. Muita gente pensa que depressão é frescura. Não cheguei a uma depressão forte, mas foi um princípio. Até então eu não sabia o que era isso. Eu estava sem remédio ou psicólogo. Foi através da oração e conscientização”, confessa.

No próximo ano, ele deve percorrer cidades brasileiras para divulgar o livro 'Philia', já entregue à Editora Globo. “É contra 14 males, como depressão, ansiedade, autoestima baixa. Eu vou poder ajudar muito às pessoas”, acredita o religioso. Para ele, compartilhar as próprias experiências é uma forma de chamar a atenção das pessoas para o problema.

'O tempo de Deus' tem 14 faixas escritas por Rossi, que abdicou dos direitos autorais para reduzir o valor de venda, R$ 10. conta. A renda será revertida para a capela dele.

Entrevista // Padre Marcelo Rossi

O senhor foi um dos primeiros a despontar como padre cantor e este segmento se mantém muito forte. Por quê?
Se pensar bem, na mídia do mundo, eu fui o primeiro, em 1998. Tive o contato com o papa João Paulo II em 1997 e ele que nos incentivou a ir aos veículos. Terminei com o filme, 'Maria: Mãe do filho de Deus'. O cardeal Ratzinger não só reconheceu meu trabalho mas me presenteou com a honraria Van Thuân (em 2010). Agora, eu sentei com a Sony e disse “quero um CD de R$ 10”. A inflação está mascarada, mas incrível, eu queria um produto barato. “Eu serei o autor de todas as músicas”. Eu sempre pegava uma música minha, mas também de outros, para divulgar. Minha preocupação era ter algo de qualidade, espiritualidade e saiu essa bênção. Está lindo. Ele vai envolvendo você. Eu renunciei à parte autoral. Só recebo como intérprete. E mesmo assim, todo o dinheiro vai para a capelinha do santuário.

Por que esse preço (R$ 10)?
Eu fiz uma pesquisa. A maioria das pessoas, o grande público que me acompanha e da classe C. Eu sei pelo Santuário. Para a classe C, um CD a R$ 20 é muito caro. No Santuário, tem pessoas que compram três, quatro, cinco. Todos já lançaram, porque sabiam que o fim do ano seria terrível. Agora, eu vou em todos os programas, sem negar nenhum, levando essa novidade.

A música é importante para divulgar a religiosidade?
É fundamental. No fim do quarto século, Santo Agostinho escreveu “quem ama canta”. O livro também é importante. Com 'Ágape', foram dez milhões de exemplares. Foi o livro mais vendido fora a Bíblia aqui no Brasil. A música é fundamental. Já estou terminando um livro. 'Philia' é contra 14 males, como depressão, ansiedade, autoestima baixa. Eu vou poder ajudar muito as pessoas. Vou lançar no ano que vem, em cidade por cidade, como Ágape, coisa que não fiz com Kairós. Olha a diferença: 'Ágape' vendeu 10 milhões de cópias. 'Kairós', dois milhões. Mas eu estava muito inchado, tomando anti-inflamatório. Depois fiquei viciado no remédio. Meu médico disse para parar com o remédio, que não tinha mais nada. Eu tinha medo de a dor voltar. Fiz a dieta, exagerei. Fiquei meio mal.

Você indica psicólogo para pessoas em depressão?
Sinceramente, sim e não. Para que serve o padre? É um médico de almas. A grande maioria das pessoas está carente. Elas não têm com quem falar. Você precisa ensinar as pessoas a se abrir com Deus. Meus amigos psicólogos concordam. O CD é antidepressivo. A primeira faixa é uma declaração, são momentos em que estava muito angustiado. Gravei esse CD jejuando. Por isso também emagreci bastante. Fiquei sem comer, a pão e água, só alface. Jesus fala que a oração é fundamental. Tanto que fiz o CD, o livro já está com a editora Globo.

Então é por isso que o senhor está mais magro?
Estou com o mesmo peso. Pega o filme 'Maria' e me compara. Estou igual. As pessoas estão estranhando o peso 80 e poucos, mas cheguei a 60 quilos. E ao pico máximo de 125. Estava quase obeso mórbido. Não quero músculo. Diariamente, faço 10 km por dia, entre corrida e caminhada. Com esse peso, me aliviou outro problema. Nunca reclamei, mas tenho problema na coluna, na lombar. Estava tomando mais remédio, só que isso destrói o fígado. Imagina com dor. Tenho discopatia degenerativa, como uma dor faquinha incomodando. Essa foi minha grande libertação. Esse peso que estou agora é o que eu quero. Tenho que manter a alimentação regrada. Tenho 1,95m. É difícil entrevistar alguém, porque você está preocupado com o que vai dizer e não ficar com a coluna corcunda. Uma das coisas que aprendi quando vou fazer esteira é olhar para a televisão. Para cair, é rapidinho (ele já se acidentou na esteira). Quando fico sem esteira, meu dia já é outro, porque você libera endorfina, que existe também no chocolate.

O senhor come chocolate?
Na verdade, não. Mas, se deixar, como uma caixa inteira. Vou confessar: na semana passada, me deu um ataque de fome e comi a caixa inteira. Como estou bem magro, tudo bem. É minha tentação, porque injeta para você a endorfina.

Então sua saúde está bem? E o senhor não está mais comendo só alface?
Está ótima. E dieta balanceada. Não posso nem ver hambúrguer ou alface.

Suas primeiras músicas eram marcadas por melodias dançantes. 'O tempo de Deus' tem outro ritmo, mais lento...
Esse CD está realmente buscando ajudar a quem passa por uma situação difícil. Todo mundo estava preocupado se o padre Marcelo está bem. Quis um CD mais profundo, intimista. Esse é o segredo do CD. E o povo está amando. Eles estão apaixonados. Vai ser uma bênção.

O senhor acha que vivemos um momento em que as pessoas se distanciam da Igreja, da religião?
Uma das minhas grandes preocupações é as pessoas se esqueceram de Deus. Sem Deus, ele cai em depressão, bebida, droga. Ela cai em alguma coisa errada. Mais do que nunca, falta Deus. Eu vou tentar falar muito na televisão sobre isso. O CD vai ajudar as pessoas a se encontrar com Deus. São inúmeras forças que querem o nosso mal, inveja... É importante sentir a proteção divina.

A renda dos seus discos é doada?
Eu tenho um santuário com capacidade para 100 mil pessoas. E sou pároco agora. As grandes celebrações, tudo bem, mas não vou usar aquele espaço enorme para fazer missa diária. Preciso fazer uma capela. E fiz o santuário sem pedir dinheiro para ninguém. Você nunca me viu pedir dinheiro. Eu trabalho e eu doou. Eu poderia ficar para mim. É meu, é lícito. 

O que o senhor acha do Tempo de Salomão?
É a cópia da bíblia. Mas não vivemos o Antigo Testamento, vivemos o novo. Depois de Jesus, quem é Salomão? O Salomão acaba sendo um templo de esplendor. Uma coisa magnífica, mas o importante é ter um lugar abençoado. A gente passa e ele fica. No santuário que construí, os padres podem ser enterrados lá. Quando morrer, vai ter alguém celebrando a missa por mim.

'Tempo de Deus' tem apenas composições suas. Como é seu processo de criação?
Nossa, foi muito legal. Foi uma experiência muito mística. Não fui eu, foi Deus. Eu trabalhei em um momento difícil. Cada música foi um momento difícil e uma resposta que Deus me deu. 'Sonhos de Deus' foi o momento em que eu estava começando a ficar com anorexia. Apesar de as pessoas falarem “você está magro”, você se enxerga gordo. A letra ajuda muito.

Como apoia os jovens que querem seguir o caminho da música religiosa?
Eu procuro ajudar sempre que posso. Divulgo na rádio que tenho. O CD não tem faixa etária. A depressão é o mal do século. Acomete até crianças. Eu acho que é muita informação e pouca formação. Eu passei por isso. 

O senhor se considera uma pessoa vaidosa?
Já fui muito. A cada dia, estou me libertando. Eu trabalhava com educação física. Querendo ou não, fui muito vaidoso, com culto ao corpo. Tanto que muita gente fala “volta a treinar, você fica forte”. Não quero estar magro de doente, como no ano passado, que estava sem energia. Estou com o peso que sempre tive, meu biótipo. Minha referência é 2012, no filme Maria.

Em quem vai votar nessas eleições?
A igreja católica nunca apoia ninguém. A igreja aprendeu que não se une política e religião. Eu sou contra padres que tentam eleição. Ele largou tudo para ser padre ou pastor. Não dá para misturar líder espiritual com político. Está errado. 

Uma das grandes discussões do debate eleitoral foi o preconceito contra a comunidade LGBT. O que o senhor achou do teor das afirmações?
Sinceramente, eu procuro ficar fora dessa discussão. Estou tão triste. Hoje tem o debate. Muito para mim vai ser desse debate, que vai ser importantíssimo. Como eu, pessoas estão esperando. Até agora, tem sido muito ataque, poucas propostas. O Brasil precisa de propostas. Estarei lá, assistindo, às 22h15. Se, até 23h, sentir que descamba pra o ataque, desligo a TV. 

E anula o voto?
Sou contra. Quero tentar o menos pior. Nunca deixei de votar. Só digo isso, nunca deixe de votar. Estou rezando para que eles tenham o equilíbrio de falar ideias. Não me interessa isso de jogar a culpa.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Depoimento de uma Católica fiel...


"As pessoas vão embora da Igreja e são inúmeras as desculpas, na maioria das vezes, por interesses pessoais e materiais, até porque, nunca vi, desde a minha infância padres pregarem que eu seria rico ou teria de tudo nessa vida. Sempre ouvi dizer, que era preciso amar a CRUZ com Cristo e a felicidade, por Ele nos seria dada.
Sempre acreditei nisso e é verdade, quanto sofrimento tive que enfrentar, Deus não me deu uma vida fácil e eis que estou aqui.
Estou na Igreja por que?
Respondo: Os mártires não desistiram, Padre Pio ficou, Madre Tereza ficou, Lúcia, Jacinta e Francisco ficaram, tanta gente que sofreu até mais que eu ficaram, e muitas delas, foram bem pobres, e ficaram.
Ir embora é um jeito de satisfazer os sentimentos. Eu fico, não vou! A Igreja Católica tem seus erros, eu sei, mas só ela tem Jesus na Eucaristia e Maria!
Os erros não significam nada diante desses tesouros! Reconheço o valor de muitas outras denominações, SÉRIAS. Porque tem muito "circo" por ai! Respeito quem não crê como acredito!
É difícil ser católico, porque às vezes a Igreja só tem respostas silenciosas às minhas dificuldades, tem gente que só se diverte com espetáculos miraculosos. Igreja prega o EVANGELHO, igrejinhas fazem espetáculos.
 Obs. esse texto é para os que ficaram e não para os que foram embora, não é pra trazer de volta a ninguém, só pra dizer porque eu não fui embora. Eu não encontrei Jesus, foi Ele que me encontrou aqui" —


domingo, 28 de setembro de 2014

O que a Igreja pensa oficialmente sobre a participação do católico na vida política?

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
NOTA DOUTRINAL 
sobre algumas questões relativas
à participação e comportamento dos católicos na vida política

A Congregação para a Doutrina da Fé, ouvido também o parecer do Pontifício Conselho para os Leigos, achou por bem publicar a presente “Nota doutrinal sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política”. A Nota é endereçada aos Bispos da Igreja Católica e, de modo especial, aos políticos católicos e a todos os fiéis leigos chamados a tomar parte na vida pública e política nas sociedades democráticas.

I. Um ensinamento constante
1. O empenho do cristão no mundo em dois mil anos de história manifestou-se seguindo diversos percursos. Um deles concretizou-se através da participação na acção política: os cristãos, afirmava um escritor eclesiástico dos primeiros séculos, “participam na vida pública como cidadãos”[1]. A Igreja venera entre os seus Santos numerosos homens e mulheres que serviram a Deus através do seu generoso empenho nas actividades políticas e de governo. Entre eles, São Tomás Moro, proclamado Padroeiro dos Governantes e dos Políticos, soube testemunhar até ao martírio a “dignidade inalienável da consciência”[2]. Embora sujeito a diversas formas de pressão psicológica, negou-se a qualquer compromisso e, sem abandonar “a constante fidelidade à autoridade e às legítimas instituições” em que se distinguiu, afirmou com a sua vida e com a sua morte que “o homem não pode separar-se de Deus nem a política da moral”[3].  
As sociedades democráticas actuais, onde louvavelmente todos participam na gestão da coisa pública num clima de verdadeira liberdade[4], exigem novas e mais amplas formas de participação na vida pública da parte dos cidadãos, cristãos e não cristãos. Todos podem, de facto, contribuir através do voto na eleição dos legisladores e dos governantes e, também de outras formas na definição das orientações políticas e das opções legislativas que, no seu entender, melhor promovam o bem comum[5]. Num sistema político democrático, a vida não poderia processar-se de maneira profícua sem o envolvimento activo, responsável e generoso de todos, “mesmo na diversidade e complementaridade de formas, níveis, funções e responsabilidades”[6].
Através do cumprimento dos comuns deveres civis, “guiados pela consciência cristã”[7] e em conformidade com os valores com ela congruentes, os fiéis leigos desempenham também a função que lhes é própria de animar cristãmente a ordem temporal, no respeito da natureza e da legítima autonomia da mesma[8], e cooperando com os outros cidadãos, segundo a sua competência específica e sob a própria responsabilidade[9]. É consequência deste ensinamento fundamental do Concílio Vaticano II que “os fiéis leigos não podem de maneira nenhuma abdicar de participar na ‘política’, ou seja, na multíplice e variada acção económica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover de forma orgânica e institucional o bem comum”[10], que compreende a promoção e defesa de bens, como são a ordem pública e a paz, a liberdade e a igualdade, o respeito da vida humana e do ambiente, a justiça, a solidariedade, etc.
A presente Nota não tem a pretensão de repropor o inteiro ensinamento da Igreja em matéria, aliás resumido, nas suas linhas essenciais, no Catecismo da Igreja Católica; entende apenas relembrar alguns princípios próprios da consciência cristã, que inspiram o empenho social e político dos católicos nas sociedades democráticas[11]. Fá-lo, porque nestes últimos tempos, não raras vezes sob a pressão dos acontecimentos, apareceram orientações ambíguas e posições discutíveis, que tornam oportuna a clarificação de aspectos e dimensões importantes da temática em questão.
 II. Alguns pontos fulcrais no actual debate cultural e político
2. A sociedade civil encontra-se hoje dentro de um processo cultural complexo, que evidencia o fim de uma época e a incerteza relativamente à nova que desponta no horizonte. As grandes conquistas de que se é espectadores obrigam a rever o caminho positivo que a humanidade percorreu no progresso e na conquista de condições de vida mais humanas. O crescimento de responsabilidades para com os Países ainda em fase de desenvolvimento é certamente um sinal de grande relevância, que denota a crescente sensibilidade pelo bem comum. Ao mesmo tempo, porém, não se podem ignorar os graves perigos, para os quais certas tendências culturais tentam orientar as legislações e, por conseguinte, os comportamentos das futuras gerações. 
Constata-se hoje um certo relativismo cultural, que apresenta sinais evidentes da sua presença, quando teoriza e defende um pluralismo ético que sanciona a decadência e a dissolução da razão e dos princípios da lei moral natural. Em conformidade com essa tendência, não é raro, infelizmente, encontrar, em declarações públicas, afirmações que defendem que esse pluralismo ético é condição para a democracia[12]. Assim, verifica-se que, por um lado, os cidadãos reivindicam para as próprias escolhas morais a mais completa autonomia e, por outro, os legisladores julgam respeitar essa liberdade de escolha, quando formulam leis que prescindem dos princípios da ética natural, deixando-se levar exclusivamente pela condescendência com certas orientações culturais ou morais transitórias[13], como se todas as concepções possíveis da vida tivessem o mesmo valor. Ao mesmo tempo, invocando erroneamente o valor da tolerância, pede-se a uma boa parte dos cidadãos – entre eles, aos católicos – que renunciem a contribuir para a vida social e política dos próprios Países segundo o conceito da pessoa e do bem comum que consideram humanamente verdadeiro e justo, a realizar através dos meios lícitos que o ordenamento jurídico democrático põe, de forma igual, à disposição de todos os membros da comunidade política. Basta a história do século XX para demonstrar que a razão está do lado daqueles cidadãos que consideram totalmente falsa a tese relativista, segundo a qual, não existiria uma norma moral, radicada na própria natureza do ser humano e a cujo ditame deva submeter-se toda a concepção do homem, do bem comum e do Estado. 
3. Uma tal concepção relativista do pluralismo nada tem a ver com a legítima liberdade dos cidadãos católicos de escolherem, entre as opiniões políticas compatíveis com a fé e a lei moral natural, a que, segundo o próprio critério, melhor se coaduna com as exigências do bem comum. A liberdade política não é nem pode ser fundada sobre a ideia relativista, segundo a qual, todas as concepções do bem do homem têm a mesma verdade e o mesmo valor, mas sobre o facto de que as actividades políticas visam, vez por vez, a realização extremamente concreta do verdadeiro bem humano e social, num contexto histórico, geográfico, económico, tecnológico e cultural bem preciso. Do concreto da realização e da diversidade das circunstâncias brota necessariamente a pluralidade de orientações e de soluções, que porém devem ser moralmente aceitáveis. Não cabe à Igreja formular soluções concretas – e muito menos soluções únicas – para questões temporais, que Deus deixou ao juízo livre e responsável de cada um, embora seja seu direito e dever pronunciar juízos morais sobre realidades temporais, quando a fé ou a lei moral o exijam[14]. Se o cristão é obrigado a “admitir a legítima multiplicidade e diversidade das opções temporais”[15], é igualmente chamado a discordar de uma concepção do pluralismo em chave de relativismo moral, nociva à própria vida democrática, que tem necessidade de bases verdadeiras e sólidas, ou seja, de princípios éticos que, por sua natureza e função de fundamento da vida social, não são “negociáveis”. 
No plano da militância política concreta, há que ter presente que o carácter contingente de algumas escolhas em matéria social, o facto de muitas vezes serem moralmente possíveis diversas estratégias para realizar ou garantir um mesmo valor substancial de fundo, a possibilidade de interpretar de maneira diferente alguns princípios basilares da teoria política, bem como a complexidade técnica de grande parte dos problemas políticos, explicam o facto de geralmente poder dar-se uma pluralidade de partidos, dentro dos quais os católicos podem escolher a sua militância para exercer – sobretudo através da representação parlamentar – o seu direito-dever na construção da vida civil do seu País[16]. Tal constatação óbvia não pode todavia confundir-se com um indistinto pluralismo na escolha dos princípios morais e dos valores substanciais, a que se faz referência. A legítima pluralidade de opções temporais mantém íntegra a matriz donde promana o empenho dos católicos na política, e esta matriz liga-se directamente à doutrina moral e social cristã. É com um tal ensinamento que os leigos católicos têm de confrontar-se constantemente para poder ter a certeza que a própria participação na vida política é pautada por uma coerente responsabilidade para com as realidades temporais. 
A Igreja é consciente que se, por um lado, a via da democracia é a que melhor exprime a participação directa dos cidadãos nas escolhas políticas, por outro, isso só é possível na medida que exista, na sua base, uma recta concepção da pessoa[17]. Sobre este princípio, o empenho dos católicos não pode descer a nenhum compromisso; caso contrário, viriam a faltar o testemunho da fé cristã no mundo e a unidade e coerência interiores dos próprios fiéis. A estrutura democrática, sobre que pretende construir-se um Estado moderno, seria um tanto frágil, se não tiver como seu fundamento a centralidade da pessoa. É, aliás, o respeito pela pessoa que torna possível a participação democrática. Como ensina o Concílio Vaticano II, a tutela “dos direitos da pessoa humana é condição necessária para que os cidadãos, individualmente ou em grupo, possam participar activamente na vida e na gestão da coisa pública”[18]
4. É a partir daqui que se estende a complexa teia de problemáticas actuais, que não tem comparação com as dos séculos passados. O avanço da ciência, com efeito, permitiu atingir metas que abalam a consciência e obrigam a encontrar soluções capazes de respeitar, de forma coerente e sólida, os princípios éticos. Assiste-se, invés, a tentativas legislativas que, sem se preocuparem com as consequências das mesmas para a existência e o futuro dos povos na formação da cultura e dos comportamentos sociais, visam quebrar a intangibilidade da vida humana. Os católicos, em tal emergência, têm o direito e o dever de intervir, apelando para o sentido mais profundo da vida e para a responsabilidade que todos têm perante a mesma. João Paulo II, na linha do perene ensinamento da Igreja, afirmou repetidas vezes que quantos se encontram directamente empenhados nas esferas da representação legislativa têm a “clara obrigação de se opor” a qualquer lei que represente um atentado à vida humana. Para eles, como para todo o católico, vale a impossibilidade de participar em campanhas de opinião em favor de semelhantes leis, não sendo a ninguém consentido apoiá-las com o próprio voto[19]. Isso não impede, como ensinou João Paulo II na Carta Encíclica Evangelium vitae sobre a eventualidade de não ser possível evitar ou revogar totalmente uma lei abortista já em vigor ou posta em votação, que “um parlamentar, cuja pessoal oposição absoluta ao aborto seja clara e por todos conhecida, possa licitamente dar o próprio apoio a propostas tendentes a limitar os danos de uma tal lei e a diminuir os seus efeitos negativos no plano da cultura e da moralidade pública”[20]
Neste contexto, há que acrescentar que a consciência cristã bem formada não permite a ninguém favorecer, com o próprio voto, a actuação de um programa político ou de uma só lei, onde os conteúdos fundamentais da fé e da moral sejam subvertidos com a apresentação de propostas alternativas ou contrárias aos mesmos. Uma vez que a fé constitui como que uma unidade indivisível, não é lógico isolar um só dos seus conteúdos em prejuízo da totalidade da doutrina católica. Não basta o empenho político em favor de um aspecto isolado da doutrina social da Igreja para esgotar a responsabilidade pelo bem comum. Nem um católico pode pensar em delegar a outros o empenho que, como cristão, lhe vem do evangelho de Jesus Cristo de anunciar e realizar a verdade sobre o homem e o mundo. 
Quando a acção política se confronta com princípios morais que não admitem abdicações, excepções ou compromissos de qualquer espécie, é então que o empenho dos católicos se torna mais evidente e grávido de responsabilidade. Perante essas exigências éticas fundamentais e irrenunciáveis, os crentes têm, efectivamente, de saber que está em jogo a essência da ordem moral, que diz respeito ao bem integral da pessoa. É o caso das leis civis em matéria de aborto e de eutanásia (a não confundir com a renúncia ao excesso terapêutico, legítimo, mesmo sob o ponto de vista moral), que devem tutelar o direito primário à vida, desde o seu concebimento até ao seu termo natural. Do mesmo modo, há que afirmar o dever de respeitar e proteger os direitos do embrião humano. Analogamente, devem ser salvaguardadas a tutela e promoção da família, fundada no matrimónio monogâmico entre pessoas de sexo diferente e protegida na sua unidade e estabilidade, perante as leis modernas em matéria de divórcio: não se pode, de maneira nenhuma, pôr juridicamente no mesmo plano com a família outras formas de convivência, nem estas podem receber, como tais, um reconhecimento legal. Igualmente, a garantia da liberdade de educação, que os pais têm em relação aos próprios filhos, é um direito inalienável, aliás reconhecido nas Declarações internacionais dos direitos humanos. No mesmo plano, devem incluir-se a tutela social dos menores e a libertação das vítimas das modernas formas de escravidão (pense-se, por exemplo, na droga e na exploração da prostituição). Não podem ficar fora deste elenco o direito à liberdade religiosa e o progresso para uma economia que esteja ao serviço da pessoa e do bem comum, no respeito da justiça social, do princípio da solidariedade humana e do de subsidariedade, segundo o qual “os direitos das pessoas, das famílias e dos grupos, e o seu exercício têm de ser reconhecidos”[21]. Como não incluir, enfim, nesta exemplificação, o grande tema da paz? Uma visão irénica e ideológica tende, por vezes, a secularizar o valor da paz; noutros casos, cede-se a um juízo ético sumário, esquecendo a complexidade das razões em questão. A paz é sempre “fruto da justiça e efeito da caridade”[22]; exige a recusa radical e absoluta da violência e do terrorismo e requer um empenho constante e vigilante da parte de quem está investido da responsabilidade política. 
 III. Princípios da doutrina católica sobre laicidade e pluralismo
5. Se, perante tais problemáticas, é lícito pensar em utilizar uma pluralidade de metodologias que reflectem sensibilidades e culturas diferentes, já não é consentido a nenhum fiel apelar para o princípio do pluralismo e da autonomia dos leigos em política, para favorecer soluções que comprometam ou atenuem a salvaguarda das exigências éticas fundamentais ao bem comum da sociedade. Por si, não se trata de “valores confessionais”, uma vez que tais exigências éticas radicam-se no ser humano e pertencem à lei moral natural. Não exigem, da parte de quem as defende, a profissão de fé cristã, embora a doutrina da Igreja as confirme e tutele, sempre e em toda a parte, como um serviço desinteressado à verdade sobre o homem e ao bem comum das sociedades civis. Não se pode, por outro lado, negar que a política deve também regular-se por princípios que têm um valor absoluto próprio, precisamente por estarem ao serviço da dignidade da pessoa e do verdadeiro progresso humano.
6. O apelo que muitas vezes se faz à “laicidade” que deveria guiar à acção dos católicos, exige uma clarificação, não apenas de terminologia. A promoção segundo consciência do bem comum da sociedade política nada tem a ver com o “confessionalismo” ou a intolerância religiosa. Para a doutrina moral católica, a laicidade entendida como autonomia da esfera civil e política da religiosa e eclesiástica – mas não da moral – é um valor adquirido e reconhecido pela Igreja, e faz parte do património de civilização já conseguido[23]. João Paulo II repetidas vezes alertou para os perigos que derivam de qualquer confusão entre esfera religiosa e esfera política. “São extremamente delicadas as situações, em que uma norma especificamente religiosa se torna, ou tende a tornar-se, lei do Estado, sem que se tenha na devida conta a distinção entre as competências da religião e as da sociedade política. Identificar a lei religiosa com a civil pode efectivamente sufocar a liberdade religiosa e até limitar ou negar outros direitos humanos inalienáveis”[24]. Todos os fiéis têm plena consciência de que os actos especificamente religiosos (profissão da fé, prática dos actos de culto e dos sacramentos, doutrinas teológicas, comunicação recíproca entre as autoridades religiosas e os fiéis, etc.) permanecem fora das competências do Estado, que nem deve intrometer-se neles nem, de forma alguma, exigi-los ou impedi-los, a menos de fundadas exigências de ordem pública. O reconhecimento dos direitos civis e políticos e a realização de serviços públicos não podem estar condicionados a convicções ou prestações de natureza religiosa da parte dos cidadãos.
Completamente diferente é a questão do direito-dever dos cidadãos católicos, aliás como de todos os demais cidadãos, de procurar sinceramente a verdade e promover e defender com meios lícitos as verdades morais relativas à vida social, à justiça, à liberdade, ao respeito da vida e dos outros direitos da pessoa. O facto de algumas destas verdades serem também ensinadas pela Igreja não diminui a legitimidade civil e a “laicidade” do empenho dos que com elas se identificam, independentemente do papel que a busca racional e a confirmação ditada pela fé tenham tido no seu reconhecimento por parte de cada cidadão. A “laicidade”, de facto, significa, em primeiro lugar, a atitude de quem respeita as verdades resultantes do conhecimento natural que se tem do homem que vive em sociedade, mesmo que essas verdades sejam contemporaneamente ensinadas por uma religião específica, pois a verdade é uma só. Seria um erro confundir a justa autonomia, que os católicos devem assumir em política, com a reivindicação de um princípio que prescinde do ensinamento moral e social da Igreja.
Intervindo nesta matéria, o Magistério da Igreja não pretende exercer um poder político nem eliminar a liberdade de opinião dos católicos em questões contingentes. Entende, invés – como é sua função própria – instruir e iluminar a consciência dos fiéis, sobretudo dos que se dedicam a uma participação na vida política, para que o seu operar esteja sempre ao serviço da promoção integral da pessoa e do bem comum. O ensinamento social da Igreja não é uma intromissão no governo de cada País. Não há dúvida, porém, que põe um dever moral de coerência aos fiéis leigos, no interior da sua consciência, que é única e unitária. “Não pode haver, na sua vida, dois caminhos paralelos: de um lado, a chamada vida ‘espiritual’, com os seus valores e exigências, e, do outro, a chamada vida ‘secular’, ou seja, a vida de família, de trabalho, das relações sociais, do empenho político e da cultura. O ramo, enxertado na videira, que é Cristo, leva a sua linfa a todo o sector da actividade e da existência. Pois todos os variados campos da vida laical fazem parte do plano de Deus, que quer que eles sejam como que o ‘lugar histórico’ onde se revela e se realiza o amor de Jesus Cristo para glória do Pai e serviço aos irmãos. Qualquer actividade, qualquer situação, qualquer empenho concreto – quais, por exemplo, a competência e a solidariedade no trabalho, o amor e a dedicação à família e à educação dos filhos, o serviço social e político, a proposta da verdade no ­âmbito da cultura – são ocasiões providenciais para um ‘constante exercício da fé, da esperança e da caridade’”[25]. Viver e agir politicamente em conformidade com a própria consciência não significa acomodar-se passivamente em posições estranhas ao empenho político ou numa espécie de confessionalismo; é, invés, a expressão com que os cristãos dão o seu coerente contributo para que, através da política, se instaure um ordenamento social mais justo e coerente com a dignidade da pessoa humana.
Nas sociedades democráticas todas as propostas são discutidas e avaliadas livremente. Aquele que, em nome do respeito da consciência individual, visse no dever moral dos cristãos de ser coerentes com a própria consciência um sinal para desqualificá-los politicamente, negando a sua legitimidade de agir em política de acordo com as próprias convicções relativas ao bem comum, cairia numa espécie de intolerante laicismo. Com tal perspectiva pretende-se negar, não só qualquer relevância política e cultural da fé cristã, mas até a própria possibilidade de uma ética natural. Se assim fosse, abrir-se-ia caminho a uma anarquia moral, que nada e nunca teria a ver com qualquer forma de legítimo pluralismo. A prepotência do mais forte sobre o fraco seria a consequência lógica de uma tal impostação. Aliás, a marginalização do Cristianismo não poderia ajudar ao projecto de uma sociedade futura e à concórdia entre os povos; seria, pelo contrário, uma ameaça para os próprios fundamentos espirituais e culturais da civilização[26] 
 IV. Considerações sobre aspectos particulares
7. Aconteceu, em circunstâncias recentes, que também dentro de algumas associações ou organizações de inspiração católica, surgiram orientações em defesa de forças e movimentos políticos que, em questões éticas fundamentais, exprimiram posições contrárias ao ensinamento moral e social da Igreja. Tais escolhas e alinhamentos, estando em contradição com princípios basilares da consciência cristã, não são compatíveis com a pertença a associações ou organizações que se definem católicas. Verificou-se igualmente, que certas revistas e jornais católicos em determinados países, por ocasião de opções políticas, orientaram os eleitores de modo ambíguo e incoerente, criando equívocos sobre o sentido da autonomia dos católicos em política, e não tendo em conta os princípios acima referidos. 
A fé em Jesus Cristo, que Se definiu a Si mesmo “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6), exige dos cristãos o esforço de se empenharem mais decididamente na construção de uma cultura que, inspirada no Evangelho, reproponha o património de valores e conteúdos da Tradição católica. A necessidade de apresentar em termos culturais modernos o fruto da herança espiritual, intelectual e moral do catolicismo torna-se extremamente urgente e inadiável, até para se evitar o risco de uma diáspora cultural dos católicos. Por outro lado, a espessura cultural alcançada e a madura experiência de empenho político que os católicos, em diversos países, souberam exprimir, sobretudo nas décadas a seguir à segunda guerra mundial, não permite pô-los em nenhum complexo de inferioridade relativamente a outras propostas que a história recente mostrou serem fracas ou radicalmente falimentares. É insuficiente e redutivo pensar que o empenho social dos católicos possa limitar-se a uma simples transformação das estruturas, porque, não existindo na sua base uma cultura capaz de acolher, justificar e projectar as instâncias que derivam da fé e da moral, as transformações apoiar-se-iam sempre em alicerces frágeis.
A fé nunca pretendeu manietar num esquema rígido os conteúdos socio-políticos, bem sabendo que a dimensão histórica, em que o homem vive, impõe que se admita a existência de situações não perfeitas e, em muitos casos, em rápida mudança. Neste âmbito, há que recusar as posições políticas e os comportamentos que se inspiram numa visão utópica que, ao transformar a tradição da fé bíblica numa espécie de profetismo sem Deus, instrumentaliza a mensagem religiosa, orientando a consciência para uma esperança unicamente terrena que anula ou redimensiona a tensão cristã para a vida eterna.
Ao mesmo tempo, a Igreja ensina que não existe autêntica liberdade sem a verdade. “Verdade e liberdade ou se conjugam juntas ou miseramente juntas desaparecem”, escreveu João Paulo II[27]. Numa sociedade, onde a verdade não for prospectada e não se procurar alcançá-la, resultará também enfraquecida toda a forma de exercício autêntico de liberdade, abrindo-se o caminho a um libertinismo e individualismo, prejudiciais à tutela do bem da pessoa e da inteira sociedade.
8. A tal propósito, convém recordar uma verdade que hoje nem sempre é bem entendida ou formulada com exactidão na opinião pública corrente; a de que o direito à liberdade de consciência e, de modo especial, à liberdade religiosa, proclamado pela Declaração Dignitatis humanae do Concílio Vaticano II, está fundado sobre a dignidade ontológica da pessoa humana e, de maneira nenhuma, sobre uma inexistente igualdade entre as religiões e os sistemas culturais humanos[28]. Nesta linha, o Papa Paulo VI afirmou que “o Concílio, de modo nenhum, funda um tal direito à liberdade religiosa sobre o facto de que todas as religiões e todas as doutrinas, mesmo erróneas, tenham um valor mais ou menos igual; funda-o, invés, sobre a dignidade da pessoa humana, que exige que não se a submeta a constrições exteriores, tendentes a coarctar a consciência na procura da verdadeira religião e na adesão à mesma”[29]. A afirmação da liberdade de consciência e da liberdade religiosa não está, portanto, de modo nenhum em contradição com a condenação que a doutrina católica faz do indiferentismo e do relativismo religioso[30]; pelo contrário, é plenamente coerente com ela. 
 V. Conclusão 
9. As orientações contidas na presente Nota entendem iluminar um dos mais importantes aspectos da unidade de vida do cristão: a coerência entre a fé e a vida, entre o evangelho e a cultura, recomendada pelo Concílio Vaticano II. Este exorta os fiéis “a cumprirem fielmente os seus deveres temporais, deixando-se conduzir pelo espírito do evangelho. Afastam-se da verdade aqueles que, pretextando que não temos aqui cidade permanente, pois demandamos a futura, crêem poder, por isso mesmo, descurar as suas tarefas temporais, sem se darem conta de que a própria fé, de acordo com a vocação de cada um, os obriga a um mais perfeito cumprimento delas”. Queiram os fiéis “poder exercer as suas actividades terrenas, unindo numa síntese vital todos os esforços humanos, familiares, profissionais, científicos e técnicos, com os valores religiosos, sob cuja altíssima jerarquia tudo coopera para a glória de Deus”[31].

O Sumo Pontífice João Paulo II na Audiência de 21 de Novembro de 2002 aprovou a presente Nota, decidida na Sessão Ordinária desta Congregação, e mandou que fosse publicada. 
Roma, sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 24 de Novembro de 2002, Solenidade de N. S. Jesus Cristo Rei do Universo. 

Joseph Card. Ratzinger
Prefeito
Tarcísio Bertone, SDB
Arcebispo emérito de Vercelli
Secretário

[1] Carta a Diogneto, 5.5. Cfr. também Catecismo da Igreja Católica, n. 2240.
[2] João Paulo II, Carta Apost. Motu Proprio dada para a proclamação de São Tomás Moro, Padroeiro dos Governantes e dos Políticos, n. 1, AAS 93 (2001) 76-80.
[3] Ibid., n. 4.
[4] Cfr.Concílio Vaticano II, Const. Past. Guadium et spes, n. 31; Catecismo da Igreja Católica, n. 1915.
[5] Concílio Vaticano II, Const. Past. Guadium et spes, n. 75.
[6] João Paulo II, Exort. Apost. Christifideles laici, n. 42, AAA 81 (1989) 393-521. A presente Nota doutrinal refere-se obviamente ao empenho político dos fiéis leigos. Os Pastores têm o direito e o dever de propor os princípios morais também sobre a ordem social; “todavia, a participação activa nos partidos políticos é reservada aos leigos” (João Paulo II, Exort. Apost. Christifideles laici, n. 60). Cfr. também Congregação para o Clero,Directório para o ministério e a vida dos presbíteros, 31 de Março de 1994, n. 33. 
[7] Concílio Vaticano II, Const. Past. Guadium et spes, n. 76.
[8] Cfr. Ibid., n. 36.
[9] Cfr. Concílio Vaticano II, Decr. Apostolicam actuositatem, n. 7; Const. Dogm. Lumen gentium, n. 36 e Const. Past. Guadium et spes, nn. 31 e 43.
[10] João Paulo II, Exort. Apost. Christifideles laici, n. 42. 
[11] Nos últimos dois séculos, o Magistério pontifício várias vezes se ocupou das principais questões relativas à ordem social e política. Cfr. Leão XIII, Carta Enc. Diuturnum illud, ASS 14 (1881/82) 4ss; Carta Enc. Immortale Dei, ASS 18 (1885/86) 162ss; Carta Enc. Libertas praestantissimum, ASS 20 (1887/88) 593ss; Carta Enc. Rerum novarum, ASS 23 (1890/91) 643ss; Bento XV, Carta Enc. Pacem Dei munus pulcherrimum, AAS 12 (1920) 209ss; Pio XI, Carta Enc. Quadragesimo anno, AAS 23 (1931) 190ss. Carta Enc. Mit brennender Sorge, AAS 29 (1937) 145-167; Carta Enc. Divini Redemptoris, AAS 29 (1937) 78ss; Pio XII, Carta Enc. Summi Pontificatus, AAS 31 (1939) 423ss; Rádio-mensagens natalícias 1941-1944; João XXIII, Carta Enc. Mater et magistra, AAS 53 (1961) 401-464; Carta Enc. Pacem in terris, AAS 55 (1963) 257-304; Paulo VI, Carta Enc. Populorum progressio, AAS 59 (1967) 257-299; Carta Apost. Octogesima adveniens, AAS 63 (1971) 401-441.
[12] Cfr. João Paulo II, Carta Enc. Centesimus annus, n. 46, AAS 83 (1991) 793-867; Carta Enc. Veritatis splendor, n. 101, AAS 85 (1993) 1133-1228; Discurso ao Parlamento Italiano em sessão pública comum, n. 5, in:L’Osservatore Romano, 15 de Novembro de 2002.
[13] Cfr. João Paulo II, Carta Enc. Evangelium vitae, n. 22, AAS 87 (1995) 401-522.
[14] Cfr. Concílio Vaticano II, Const. Past. Guadium et spes, n. 76.
[15] Ibid., n. 75.
[16] Cfr. Ibid., nn. 43 e 75.
[17] Cfr. Ibid., n. 25.
[18] Ibid., n. 73.
[19] João Paulo II, Carta Enc. Evangelium vitae, n. 73.
[20] Ibid.
[21] Concílio Vaticano II, Const. Past. Guadium et spes, n. 75.
[22] Catecismo da Igreja Católica, n. 2304.
[23] Concílio Vaticano II, Const. Past. Guadium et spes, n. 76.
[24] João Paulo II, Mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz de 1991: “Se queres a paz, respeita a consciência de cada homem”, IV, AAS 83 (1991) 410-421.
[25] João Paulo II, Exort. Apost. Christifideles laici, n. 59. A citação interna é do Concílio Vaticano II, Decr.Apostolicam actuositatem, n. 4.
[26] João Paulo II, Discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, in: L’Osservatore Romano, 11 de Janeiro de 2002.
[27] João Paulo II, Carta Enc. Fides et ratio, n. 90, AAS 91 (1999) 5-88.
[28] Cfr.Concílio Vaticano II, Decl. Dignitatis humanae, n. 1: “O Sagrado Concílio professa, em primeiro lugar, que o próprio Deus manifestou ao género humano o caminho por que os homens, servindo-O, podem ser salvos e tornar-se felizes em Cristo. Acreditamos que esta única verdadeira religião se verifica na Igreja Católica”. Isto não impede que a Igreja nutra um sincero respeito pelas várias tradições religiosas; pelo contrário, considera que nelas estão presentes “elementos de verdade e bondade”. Cfr. Concílio Vaticano II, Const. Dogm. Lumen gentium, n. 16; Decr. Ad gentes, n. 11; Decl. Nostra aetate, n. 2; João Paulo II, Carta Enc. Redemptoris missio, n. 55, AAS 83 (1991) 249-340; Congregação para a Doutrina da Fé, Decl. Dominus Iesus, nn. 2. 8. 21, AAS 92 (2000) 742-765.
[29] Paulo VI, Discurso ao Sacro Colégio e aos Prelados Romanos, in: Insegnamenti di Paolo VI, 14 (1976) 1088-1089.
[30] Cfr. Pio IX, Carta Enc. Quanta cura, ASS 3 (1867) 162; Leão XIII, Carta Enc. Immortale Dei, ASS 18 (1885) 170-171; Pio XI, Carta Enc. Quas primas, AAS 17 (1925) 604-605; Catecismo da Igreja Católica, n. 2108; Congregação para a Doutrina da Fé, Decl. Dominus Iesus, n. 22.
[31] Concílio Vaticano II, Const. Past. Gaudium et spes, n. 43; Cfr. também João Paulo II, Exort. Apost.Christifideles laici, n. 59.