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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O Pai-Nosso – o certo é dizer "dívidas" ou "ofensas"?

"No Pai nosso o que é correto rezar: 'perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tenham ofendido', ou 'perdoai as nossas dívidas assim como perdoamos as de nossos devedores'. Dizem que a tradução correta dos evangelhos originais de Matheus é a segunda hipótese. Henrique Sebastião se puder tirar esta minha dúvida eu agradeço. A paz de Jesus."

Como fica, então, subentendido, nesta postagem não é nosso objetivo meditar a oração do Pai-Nosso como um todo. – Seria bom fazê-lo, e possivelmente o faremos, se Deus o quiser. – Agora  procuraremos, com a Graça do mesmo SENHOR, resolver uma dificuldade que perturba alguns fiéis católicos que querem continuar seguindo com fidelidade a Sagrada Tradição através do Magistério perene da Santa Madre Igreja.

Há um provérbio popular que diz: "Ensinar o Pai-Nosso ao Vigário". Vivemos em tempos tão conturbados que este provérbio está se realizando "ipsis litteris", isto é, nas mesmas letras. Pois uns dizem: "Senhor Vigário, o senhor está errado porque está rezando no Pai-Nosso: 'Perdoai as nossas ofensas', e não 'dividas'". Já outros dizem: "Senhor Vigário, o senhor está errado porque está rezando no Pai-Nosso: 'perdoai as nossas dívidas', e não 'ofensas'".

Todos sabemos que foi Jesus quem ensinou o Pai-Nosso. Por isso é a oração mais perfeita e mais bela que existe. É a Oração do Senhor ou "Oração Dominical". "Dominus" em latim quer dizer "Senhor". Quão importante e necessário é que rezemos o Pai-Nosso como Jesus ensinou! Devemos rezá-lo não só com grande devoção mas também como Jesus rezou, portanto, com toda a fidelidade. Facilitá-lo é a finalidade desta postagem.

Dois Evangelistas relatam a passagem em que se narra como Jesus ensinou o Pai-Nosso: São Mateus (6, 9-13) e São Lucas (11, 1-3). Pelos estudos da Exegese parece que Jesus só se utilizou do aramaico, língua falada na Palestina naquela época, aliás muito parecida com o hebraico, idioma original dos judeus. Usava-se também o grego (língua da Ciência e da Filosofia) e o latim, por ser a língua oficial do império romano, ao qual estava sujeita a Palestina na época.

Concluímos com toda probabilidade que Jesus ensinou o Pai-Nosso em aramaico. São Mateus também escreveu seu Evangelho em aramaico. Já São Lucas escreveu o terceiro Evangelho em grego. São Lucas é o único que não pertence a raça judaica: nasceu em Antioquia, era médico e escrevia em grego. Possuía, inclusive, grande conhecimento desta língua, e o seu Evangelho, literária e historicamente, é o mais perfeito.

Quanto ao Pai-Nosso, os relatos de São Mateus e de São Lucas não são iguais: Lucas é mais sucinto. Por isso a Santa Madre Igreja adotou o de São Mateus completado com alguma palavra do de São Lucas. De São Mateus a Igreja adotou o Amém, segundo a Vulgata de São Jerônimo. Agora vamos ao ponto nevrálgico: dívidas ou ofensas?

Além de São Lucas, também São Marcos e São João escreveram em grego. São Jerônimo traduziu os quadro Evangelhos para o latim. Em São Mateus traduz empregando a palavra debita que quer dizer: "dívidas". De São Lucas traduziu peccata, que quer dizer: "pecados". A palavra empregada no aramaico por São Mateus corresponde no grego à palavra ofeilémata, que em português quer dizer exatamente "dívidas". São Lucas, porém, não empregou esta palavra, mas a substituiu pela palavra grega martías, que em português quer dizer exatamente "pecado". São Lucas assim o fez (e como já dissemos ele tinha um conhecimento profundo do grego) porque "pecado" era mais claro para os leitores gregos, enquanto que a palavra ofeilémata (dívidas), sugeria-lhes a ideia de obrigação financeira.

Por sua vez, São Mateus empregou a palavra aramaica que significava dívidas porque no aramaico a noção de pecado exprimia-se correntemente pela palavra "dívida". E a demonstração mais clara disto é o exemplo do próprio Cristo Jesus, que usou a parábola dos Servos Devedores, para mostrar que, se nós não perdoarmos as ofensas que nossos próximos nos fazem, também Ele não perdoa os nossos pecados. – Logo depois de ensinar o Pai-Nosso, Jesus disse: "Porque, se vós perdoardes aos homens as suasofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará os vossospecados. Mas, se não perdoardes aos homens, tão pouco vosso Pai vos perdoará os vossos pecados". (S. Mateus, 11, 14-15).



Vemos assim que já nas origens, partindo das próprias palavras do Cristo, haviam as duas palavras. Isto explica o porquê das diferenças, – aliás mais superficiais do que reais, – nos diversos idiomas do mundo, ao se rezar o Pai-Nosso. Fiz uma pesquisa e pude constatar o seguinte: Em Portugal já se rezava "ofensas" (o Pai-Nosso num livro de 1940 e no 'Pequeno Manual do Catequista' do célebre teólogo Perardi, editado em 1955 em LISBOA, na gáfica União, traz o Pai-Nosso em latim ao lado da tradução em Português, e lá está: 'Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido'); na França se rezava "offences", isto é, "ofensas" (Pai-Nosso num livro de 1914); na Itália se rezava "debiti", isto é, "dívidas" ( Pai-Nosso num livro de 1960); na Espanha se rezava "deudas", isto é, "dívidas" ( Pai-Nosso num livro de 1928).

No Brasil se rezava "dívidas", e não "ofensas". Depois do Concílio Vaticano II, os bispos do Brasil decidiram passar a rezar "ofensas", como em Portugal. D. Antônio de Castro Mayer não teve nenhuma dificuldade em aceitar a mudança e a impôs na Diocese de Campos, inclusive ao imprimir o Catecismo já usou o Pai-Nosso com esta modificação. O Padre Emanuel José Possidente, em 1972, quando imprimiu seus "Planos de Aulas" ('Explicação do Pequeno Catecismo') faz a explanação do Pai-Nosso segundo a mudança, ou seja, "perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos têm ofendido".

Numa posterior reunião do clero, um dos sacerdotes da atual Administração Apostólica São João Maria Vianney apresentou objeção, aceita no momento por seus pares; D. Antônio de Castro Mayer voltou atrás e mandou que se continuasse rezando o Pai-Nosso como até então sempre fora o costume no Brasil, com "dívidas" no lugar de "ofensas"1. – Aconteceu que , com a vinda do novo Bispo, D. Carlos Navarro, houve a famosa divisão na Diocese de Campos, porque o Bispo expulsou os padres da Administração de suas paróquias. Assim, o povo que ficou do lado do novo Bispo rezava o Pai-Nosso com a mudança ('ofensas') e os da Administração continuaram com a versão tradicional ('dívidas'). – Isso criou no povo uma ideia errada de que rezar "nossas ofensas" seria sinal de progressismo. Os próprios padres da Administração, porém, reconheceram que pela estudo exegético e histórico a mudança realmente não envolvia nenhum progressismo. Quem poderia tachar de "progressistas" o Santo Cura d'Ars ou Santa Terezinha, porque rezavam : "Pardonnez-nous nos offenses, comme nous pardonnons à ceux qui nous ont offensés", (Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido)?.

Portanto, tal diferença já havia antes do Concílio Vaticano II, e mesmo que tivesse advindo deste, não haveria aí nenhum problema. A realidade precisa ser vista objetivamente. Não sabemos dizer se a mudança ocorreu apenas no Brasil ou também em outros países onde que se rezava "nossas dívidas". – Se alguém souber e puder nos esclarecer, ficaremos muito agradecidos.


1. Conf. informações da página mantida por sacerdote da Administração Apostólica São João Maria Vianney, "Zelo Zelatus Sum", ref. fonte espec. abaixo.

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Adaptado do artigo "O Pai-Nosso", do site "Zelo Zelatus Sum", disponível em:

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O que significa ser católico?












por 


Um jovem me fez esta pergunta. Disse que há algum tempo está em crise de fé e tem buscado a solução em igrejas evangélicas. Em uma delas, ao confessar-se católico, ouviu dizer que a palavra “católico” nem sequer está na Bíblia. Ficou com esta dúvida intrigante. Queria uma resposta, pois já estava começando a pensar que seus amigos tinham razão e que seria melhor mesmo mudar de igreja.
Pedi que ele abrisse a sua Bíblia no Evangelho de Mateus, capítulo 28, versículos 18b-20. Utilizarei aqui a tradução mais popular nas bíblias evangélicas (Almeida, corrigida e fiel):
“É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convoscotodos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.”
Você percebeu que fiz questão de colocar em negrito uma palavrinha que aparece de modo insistente no texto: TODO. Jesus tem todo o poder; devemos anuncia-lo a todos os povos, guardar todo o seu ensinamento na certeza de que estará todos os dias conosco. Esta ordem de Jesus foi levada muito a sério pelos discípulos. Em grego a expressão “de acordo com o todo”, pode ser traduzida por “Kat-holon”. Daí vem a palavra “católico” (em grego seria: Καθολικός). Ao longo do primeiro e segundo séculos os seguidores de Jesus Cristo começaram a ser reconhecidos como “cristãos” e “católicos”. As duas palavras eram utilizadas indistintamente. Ser católico já significava “ser plenamente cristão”. O catolicismo, portanto, é o cristianismo na sua “totalidade”. É a forma mais completa de obedecer o mandato do Mestre antes de sua volta para o Pai. O mesmo mandado pode ser lido no Evangelho de Marcos 16,15: “Ide e pregai o evangelho a toda criatura”. Há, portanto, uma catolicidade vertical, que é ter o Cristo todo, ou seja ser discípulo; e uma catolicidade horizontal, que é levar o Cristo a todos, ou seja, ser missionário. Isso é ser católico: totalmente discípulo, totalmente missionário, totalmente cristão!
Ao que tudo indica o termo “católico” se tornou mais popular a partir de Santo Inácio de Antioquia (discípulo de São João), pelo ano 110 dC. Pode significa tanto a “universalidade” da Igreja como a sua “autenticidade”. Quase na mesma época São Policarpo utilizava o termo “católico” também nestes dois sentidos. Santo Agostinho utilizou o termo “católico” mais de 240 vezes em seus escritos, entre 388-420. São Cirilo de Jerusalém (315-386), bispo e doutor da Igreja, dizia: “A Igreja é católica porque está espalhada por todo o mundo; ensina em plenitude toda a doutrina que a humanidade deve conhecer; conduz toda a humanidade à obediência religiosa; é a cura universal para o pecado e possui todas as virtudes” (Catechesis 18:23). Veja que já está bem claro os dois sentidos de “Católico” como “universal e ortodoxo”. Durante mil anos os dois significados estiveram unidos. Mas por volta do ano 1000 aconteceu um grande cisma que dividiu a igreja em “ocidental e oriental”. A Igreja do ocidente continuou a ser denominada “Católica” e a Igreja do oriente adotou o adjetivo de “Ortodoxa”. Na raiz as duas palavras remetem ao significado original de Igreja “autêntica”.
Santo Tomás de Aquino (1225-1274), grande teólogo ocidental, desenvolveu uma teologia da catolicidade. A Igreja seria “universal” em três sentidos: a) Está em todos os lugares (cf. Rm 1,8) e pode ser militante na Terra, padecente no purgatório e triunfante no céu; b) Inclui pessoas dos três estados de vida (Gal 3,28): leigos, religiosos e ministros ordenados; c) Não tem limite de tempo desde Abel até a consumação dos tempos.
A Igreja católica reconhece que cristãos de outras igrejas pode ter o batismo válido e possuir sementes da verdade em sua fé. Porém, sabe que apenas a Igreja católica conserva e ensina sem corrupção TODA a doutrina apostólica e possui TODOS os meios de salvação.
Devemos viver e promover a sensibilidade ecumênica promovendo a fraternidade com os irmãos que pensam ou vivem a fé cristã de um modo diferente. Mas isso não significa abrir mão de nossa catolicidade. Quando celebramos a Eucaristia seguimos à risca o mandato do Mestre que disse: “Fazei isso em memória de mim!” A falta da Eucaristia deixa uma grande lacuna em algumas Igrejas. Um pastor evangélico, certa vez, me disse que gostaria de rezar a ave-maria, mas por ser evangélico não conseguia. Perguntei por quê? Ele disse que se sentia incomodado toda vez que lia o Magnificat em que Maria proclama: “Todas as gerações me chamarão de bendita” (Lc 1,48)… e se questionava o por quê sua geração tão evangélica não faz parte desta geração que proclama bem-aventurada a Mãe do Salvador!
Realmente, ser católico é ser totalmente cristão!

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Como Surgiram as Indulgências?

O uso das indulgências teve sua origem nos primórdios da Igreja. Desde os primeiros tempos ela usou o seu poder de remir a pena temporal dos pecadores.Sabemos que na Igreja antiga dos primeiros séculos, a absolvição dos pecados só era dada aos penitentes que se acusassem dos próprios pecados e se submetessem a uma pesada penitência pública; por exemplo, jejum de quarenta dias até o pôr do sol, trajando-se com sacos e usando o silício, autoflagelação, retirada para um convento, vagar pelos campos vivendo de esmolas, etc., além de ser privado da participação na Liturgia eucarística e da vida comunitária. Isto era devido ao “horror” que se tinha ao pecado e ao escândalo.

Aquele que blasfemasse o nome de Deus, da Virgem Maria, ou dos santos, ficava na porta da igreja, sem poder entrar, sete domingos durante a missa paroquial, e, no último domingo ficava no mesmo lugar sem capa e descalço; e nas sete sextas-feiras precedentes jejuava a pão e água, sem poder neste período entrar na igreja. Aquele que rogasse uma praga aos pais, devia jejuar quarenta dias a pão e água…

Essas pesadas penitências, e outras, tinham o objetivo de extinguir no penitente os resquícios do pecado e as más inclinações que o pecado sempre deixa na alma do pecador, fazendo-o voltar a praticá-lo.

Na fase das perseguições dos primeiros séculos, quando era grande o número de mártires, muitos cristãos ficavam presos e aguardando o dia da própria execução; eram os Confessores da fé. Surgiu nesta época um belo costume: os penitentes recorriam à intercessão dos que aguardavam presos à morte. Um deles escrevia uma carta ao bispo pedindo a comutação da pesada penitência do pecador; eram as chamadas “cartas de paz”. Com este documento entregue ao bispo, o penitente era absolvido da pesada penitência pública que o confessor lhe impusera e também da dívida para com Deus; a pena temporal que a penitência satisfazia. Assim, transferia-se para o pecador arrependido, o valor satisfatório dos sofrimentos do mártir.


Desta forma começou o uso da indulgência na Igreja.

Muitas vezes os penitentes não tinham condições de saúde suficiente para cumprir essas penitências tão pesadas; e isto fez com que a Igreja, com o passar do tempo, em etapas sucessivas e graduais, fosse abrandando as penitências.

cpa_o_que_sao_as_indulg_nciasNa idade média, a Igreja, com a certeza de que ela é a depositária dos méritos de Cristo, de Nossa Senhora e dos Santos, o chamado“tesouro da Igreja”, começou a aplicar isto aos seus filhos

pecadores. Inspirados pelo Espírito Santo, os Papas e Concilios, a partir do século IX, entenderam que podiam aplicar esses méritos em favor dos penitentes que deviam cumprir penitências rigorosas. Assim, surgiram as “obras indulgenciadas”, que substituíam as pesadas penitências. O jejum rigoroso foi substituído por orações; a longa peregrinação, por pernoitar em um santuário; as flagelações, por esmolas; etc… A partir daí, a remissão da pena temporal do pecado, obtida pela prática dessas “obras indulgenciadas”, tomou o nome de “indulgência”.

Nos exemplos das pesadas penitências públicas citadas acima, elas eram substituídas, respectivamente, por uma indulgência de sete semanas e por uma indulgência de 40 dias; por isso as indulgências eram contadas em dias, semanas e meses, porque assim, eram também contadas as penitências públicas.

Com a reza do Terço, por exemplo, em qualquer dia do mês de outubro, se ganhava a indulgência de sete anos.

No século IX, os bispos já concediam indulgências gerais, isto é, a todos os fiéis, sem a necessidade da mediação de um sacerdote. Assim, os bispos estipularam que realizando certas obras determinadas, os fiéis poderiam obter, pelos méritos de Cristo, a remissão das penas devidas aos pecados já absolvidos.

É preciso compreender que esta prática não se constituía em algo mecânico, não; o penitente, ao cumprir a obra indulgenciada devia trazer consigo as mesmas disposições interiores daquele que cumpria no passado as pesadas penitências, isto é, profundo amor a Deus e repúdio radical de todo pecado. Sem isto, não se ganharia a indulgência.

Com o passar do tempo, e principalmente por causa da “questão das indulgências” no tempo de Martinho Lutero, no século XVI, as indulgências foram ofuscadas e tornaram-se objeto de críticas. No entanto, após o Concílio Vaticano II (1962-65), o Papa Paulo VI reafirmou todo o seu valor, na Constituição Apostólica Indulgentiarum Doctrina, em que quis claramente mostrar o sentido profundo e teológico das indulgências; incitando os católicos ao espírito de contrição e penitência que deve movê-los ao realizar as obras indulgenciadas, removendo toda a aparência de mecanicismo espiritual que no passado aconteceu.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Por que a Igreja é Una?


Falando da Igreja o Concílio nos ensina que: “Esta é a ÚNICA Igreja de Cristo que no símbolo confessamos una, santa, católica e apostólica” (LG, 8). A unidade e unicidade da Igreja vêm da própria unidade da Trindade Santa. O único povo de Deus no Antigo Testamento (Israel), se prolonga no único povo de Deus no Novo Testamento (a Igreja). Cristo tem um só Corpo e uma só Esposa, daí vem a exigência monogâmica do matrimônio cristão, que é espelho da união de Cristo com a sua única Esposa.
São Clemente de Alexandria (†215) expressou bem esse mistério dizendo: “Que estupendo mistério! Há um único Pai do universo, um único Logos do universo e também um único Espírito Santo, idêntico em todo lugar; há também uma única virgem que se tornou mãe, e me agrada chamá-la Igreja” (CIC nº 813).
São Paulo também expressa de muitas maneiras a unidade da Igreja. Aos coríntios ele afirma: “Por isso, se um membro sofre, todos os membros padecem com ele; ou se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele” (1Cor 12,26).
A diversidade de membros do Corpo místico não destrói a sua unidade. É a “unidade na diversidade”, como ensina São Paulo:
“Pois, como em  um  só  corpo  temos  muitos  membros e cada um dos nossos membros tem diferente função, assim nós, embora sejamos muitos membros, formamos um só corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro” (Rom 12,4-5).
A “Lumen Gentium” deixa bem claro que: “A única Igreja de Cristo… é aquela que nosso Salvador, depois  da  sua  Ressurreição, entregou a Pedro para  apascentar  e confiou  a ele e aos demais  Apóstolos  para propagá-la e regê-la… Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma  sociedade,  subsiste na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele” (LG, 8).
A unidade da Igreja se revela também por vários fatores: doutrina, liturgia, governo, sucessão apostólica, etc.
A Igreja possui uma única doutrina, um único Credo, a profissão de uma única fé recebida dos Apóstolos. Ninguém pode se dizer católico se não crê nessas verdades da fé.

domingo, 7 de abril de 2013

Por que devemos rezar se Deus não vai mudar Sua Vontade?


"Para esclarecimento desta doutrina, deve-se considerar que a providência divina não somente determina os efeitos, mas também de quais causas, e em que ordem são causados. Entre as múltiplas causas, há também as que são atos humanos. Donde ser necessário, não que os homens façam alguma coisa para, pelos seus atos, mudarem o que foi disposto pela providência divina, mas que, pelos seus atos, realizem alguns efeitos, segundo a ordem disposta por Deus. Isto acontece também nas causas naturais e algo semelhante na oração.
 Não oramos para mudar o que foi disposto pela graça divina, mas para que façamos o que Deus dispôs para ser realizado devido à oração dos santos. Por isso, escreve Gregório: "Pedindo, os homens mereçam receber aquilo que Deus onipotente determinou conceder-lhes desde a eternidade.

(...), portanto, deve-se dizer que não é necessário apresentar as preces a Deus para torná-Lo ciente dos nossos desejos ou indigências, mas para que nós mesmos consideremos que, nesses casos, se deve recorrer ao auxílio divino.

(...), deve-se dizer, como foi dito acima que a nossa oração não objetiva mudar aquilo que foi disposto por Deus, mas conseguir d´Ele, pelas orações, o que Ele dispôs.

(...), deve-se dizer que muitas coisas Deus concede por liberdade mesmo que não pedidas. Mas quando nos concede o que Lhe pedimos, o faz para nossa utilidade, a saber, para que consigamos a confiança para recorrer a Deus e tenhamos o reconhecimento de que Ele é o autor dos nossos bens. A respeito, escreve Crisóstomo: 'Considera quanta felicidade te foi concedida; quanta glória te foi atribuída; pelas orações, dialogar com Deus, conversar com Cristo, aspirar ao que querer e pedir o que desejas.'"

Assim, não procede a mentalidade deísta de que Deus criou o mundo e nele não intervém, portanto, rezar é inútil. O determinismo deísta não é cristão. Os cristãos sabem que é necessário rezar, é preciso suplicar a Deus, porém, isso levanta um outro problema: se a oração, a súplica é necessária e ela muda o agir de Deus, Ele é um Deus mutável, um Deus que instável em seus desígnios? A resposta é dada também pelo Doutor Angélico, conforme visto acima: a oração do homem faz parte do modo de a Providência divina operar.

O Catecismo da Igreja Católica ensina na mesma linha quando diz que "a oração cristã é cooperação com sua Providência, com seu plano de amor para com os homens". (2738) Portanto, Deus não determina, na sua Providência, somente o efeito final, mas também as causas através das quais Ele irá realizar, Ele determina também o caminho pelo qual o Seu desejo irá acontecer.

Deus é a fonte de todo o amor, mas Ele não quer ser o único que ama, Ele quer amar também com as suas criaturas. Quando Jesus conta a parábola da viúva, São Lucas esclarece logo no início que o que Ele queria era "mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, sem nunca desistir." (Lc 18, 1) Esta é a lição a ser aprendida dessa parábola.
Uma outra pergunta poderia ser feita então: e se eu não rezasse, a vontade de Deus não aconteceria? A resposta se encontra no Livro de Ester quando Mardoqueu diz a ela que fora ali colocada providencialmente para salvar o povo, mas que nem por isso era 'necessária', pois mesmo se ela se calasse, Deus faria vir a salvação e a libertação do povo de outro lugar (conf. 4, 14).

Existe, portanto, uma grande dificuldade em sintonizar a Providência de Deus (bondosa, sábia e imutável) e a liberdade humana, pois são duas realidades aparentemente antagônicas: o homem é tão livre que pode dizer não a Deus; Deus há de realizar o seu projeto para cada indivíduo. Trata-se de uma dificuldade teólogica, porém, é sabido que na vida de oração o homem coopera com a Providência divina.
Atualmente, muitos teólogos têm negado a Providência divina, alegando que ela nada mais é do que uma "visão platônica" do Cristianismo. Tal posicionamento é inaceitável. O Concilio Vaticano I, na Constituição Dei Filius, diz que:

"Ora, tudo o que criou, Deus o conserva e governa com sua providência, 'alcançando com força de uma extremidade a outra e dispondo com suavidade todas as coisas'. Pois, 'tudo está nu e descoberto aos seus olhos', mesmo que há de acontecer por livre ação das criaturas." (DH 3003)
A Resposta Católica, portanto, é esta: Deus, por sua providência, fará prevalecer a sua vontade, mas Ele providencia também as orações dos homens.

domingo, 24 de março de 2013

Como proceder ao ser caluniado?

Por Santa Faustina Kowalska
Hoje tive um grande desgosto por causa de certa pessoa, ou seja, por causa de certa pessoa leiga. Essa pessoa, com base numa coisa verdadeira, disse muitas coisas inventadas, e como todas essas coisas foram tidas por verdadeiras e espalhadas pela casa toda, quando vieram aos meus ouvidos, senti uma dor no coração. Como se pode abusar da bondade dos outros? - Mas resolvi não dizer palavra alguma em minha defesa e demonstrar uma bondade ainda maior para com essa pessoa. Mas, para suportá-lo com tranquilidade, percebi que tinha poucas forças, pois isso se prolongava por semanas. Quando vi a tempestade a levantar-se e o vento a jogar areia diretamente nos meus olhos, fui diante do Santíssimo Sacramento e disse ao Senhor: "Jesus, peço-Vos a força da vossa graça atual, porque sinto que não vou conseguir suportar essa luta. Protegei-me com o Vosso peito". Então ouvi estas palavras: - Não temas, Eu estou contigo. Quando me afastei do altar, uma estranha força e paz inundaram a minha alma, e a tempestade que se desencadeou, batia contra a minha alma como contra um rochedo, e a espuma da tempestade caiu sobre aqueles que a provocaram. Oh! como é bom o Senhor, que paga a cada um segundo suas obras... Que toda alma peça para si a graça especial, visto que às vezes a graça habitual não é suficiente. 

+ Quando a dor tomar conta de toda a minha alma,
E o horizonte escurecer como a noite, 
E o coração for dilacerado pelos tormentos da dor, 
Jesus Crucificado, Vós sois minha força.

Quando a alma, aturdida pela dor, 
Faz todos os esforços e luta sem descanso, 
E o coração agoniza em amargo tormento, 
Jesus Crucificado, sois a esperança da minha salvação. 

E assim passa dia após dia
E a alma banha-se no amargor do mar, 
E o coração se dissolve em lágrimas:
Jesus Crucificado, Vós me iluminais como a aurora.

E quando o cálice da amargura já transborda, 
E tudo conspira contra ela, 
E a alma vive os momentos do Jardim das Oliveiras, 
Jesus Crucificado, em Vós está a minha defesa. 

Quando a alma, sentindo a sua inocência, 
Aceita as provações de Deus, 
Então o coração é capaz de pagar com o amor pelos dissabores! 
Jesus Crucificado, transformai a minha fraqueza em força.

Não é coisa fácil suportar os sofrimentos, especialmente os injustos. A natureza corrompida se revolta e, embora a vontade e a inteligência sejam superiores ao sofrimento, porque têm condições de fazer o bem àqueles que lhes causam dor, os sentimentos fazem muito ruído e, como espíritos inquietos, atacam a vontade e a inteligência. Mas logo percebem que por si só nada podem, se acalmam e se submetem à inteligência e à vontade. Como um espantalho irrompem no interior e fazem muito rumor, e é só querer ouvi-las, sempre que não estão sob o domínio da vontade e da inteligência. 

Fonte: Livro: Diário, a misericórdia Divina na minha alma - Santa M. Faustina Kowalska. 
(osegredodorosario.blogspot.com)

sexta-feira, 22 de março de 2013

Regra para distinguir a Verdade Católica do Erro.


Após interrogar com freqüência, cuidado e atenção numerosíssimas pessoas, destacadas em santidade e doutrina, sobre como distinguir por meio de uma regra segura, geral e normativa, a verdade da fé católica da falsidade perversa da heresia, quase todas me responderam o mesmo: “Todo cristão que queira desmascarar as intrigas dos hereges que brotam ao nosso redor, evitar suas armadilhas e manter-se íntegro e incólume na fé imaculada, deve, com a ajuda de Deus, adornar sua fé de duas maneiras: em primeiro lugar, com a autoridade da lei divina, e com a Tradição da Igreja Católica”. Contudo, alguém poderia objetar: visto que o Canon das Escrituras é por si só perfeito para tudo, que necessidade há de se acrescentar a autoridade da interpretação da Igreja?

Precisamente por que a Escritura, por sua própria sublimidade, não é entendida por todos de modo idêntico e universal. De fato, as mesmas palavras são interpretadas diferentemente por uns e por outros. Poderíamos dizer que existem tantas interpretações quanto leitores. Vemos, por exemplo, que Novaciano explica a Escritura de um modo, Sabélio de outro, Donato, Ário, Eunômio, Macedonio, de outro; de maneira diversa a interpretam Fotino, Apolinário, Prisciliano, Joviniano, Pelágio, Celéstio e, em nossos dias, Nestório. É, pois, sumamente necessário, por causa das tão numerosas e intrincadas faces do erro, que a linha de interpretação dos Profetas e dos Apóstolos se faça segundo a norma do sentido Católico e da Igreja.

Na Igreja Católica é preciso pôr o maior cuidado para manter o que se crê em todas as partes, sempre e por todos. Eis o que é verdadeira e propriamente católico, segundo a idéia de universalidade que se encerra na própria etimologia da palavra. Mas isso só será conquistado se seguirmos a universalidade, a antiguidade, o consenso geral. Seguiremos a universalidade se professarmos a única e verdadeira fé a que a Igreja inteira professa em todo mundo; a antiguidade, se não nos separarmos de nenhuma forma dos sentidos que foram proclamados por nossos santos predecessores e padres; o consenso geral, por último, se, nesta mesma antiguidade, abraçarmos as definições e as doutrinas de todos os bispos e mestres.

São Vicente Lerins, Comonitorium